segunda-feira, outubro 08, 2012

Sobre Futuros e Pretéritos


Desde os primeiros anos escolares eu sempre tive dificuldade de compreender o tempo e consequentemente suas ações. Porque para uma criança de 8 anos aprender ação e tempo é meio surreal, ainda mais quando se tem uma escola que não ajuda e nos manda a decorar verbos – sem apostos ou dois pontos para uma explicação...só ponto final, sendo isso e ponto -, como se o tempo fosse algo para ser decorado ou linear. Triste, né?

Bem...essa minha dificuldade temporal/verbal se arrasta até hoje de forma diferente, porque hoje compreendi que não deveria nunca haver futuro do presente...porque ele não existe. O que há é uma possibilidade de tempo futuro lá no pretérito. Nada mais. Como diria uma grande amiga que morreu cedo demais, a Marina, o único tempo perfeito é o AGORA. É isso que se escreve na minha gramática neste momento, a minha linha do tempo torta sem modos, número, pessoas, tempo, voz só no: pretérito imperfeito, PRESENTE, futuro do pretérito...Ah! E tem o subjuntivo... sempre cheio de desejos e dúvidas. Tão humano esse modo, né? Mas isso é outra história...a do talvez.

Por que só os três tempos? Porque nunca uma ação é finalizada de fato, a não ser a morte...sempre a possibilidade de um retorno. E hoje me dou esse direito de não ser nada PERFEITA. O presente acontece neste momento que digito as letras, e agora já é passado...tão imperfeito porque este texto é aberto, nunca fechado e eu posso voltar aqui, mexer e mexer e brincar com o tempo. O futuro...sempre seria assim: Eu queria, eu teria eu seria...Afirmar que terei sempre seria errar...Porque a vida é roda vida.

Talvez, talvez bem subjuntivo, as crianças tenham essa noção e por isso aprender tempos e modos verbais seja surreal ainda...porque é no uso, na vida que se conjuga e que se entende a si e a humanidade.

Agora não tenho futuro, nem passado perfeito...Tenho uma página em branco sendo escrita, cheia de borrados, anotações que a todo tempo posso apagar e retomar...Não tenho futuro porque tenho sonhos demais. Uso e abuso dos meus desejos e ideologias porque eles que constroem a minha maior conjugação a de ser eu...

Sobre as pessoas, número e voz...Tenho evitado a primeira pessoa e o singular..Alias tenho aprendido que o singular é manco. Desde algum tempo tenho conjugado tudo na primeira pessoa do plural: Nós. E mais...tenho aprendido como é lindo dizer de nós...como é rico. Sobre vozes...só uso a ativa. Porque de passiva eu nunca seria nada. Tenho medo de sujeitos passivos. E a cada momento que teço essas letras percebo como a língua é parte da gente, da vida, dos nossos sonhos e angustias. Percebo que ela nos liga ao mais humano de nós...E ai vem alguém e segrega tudo, talvez porque entender o funcionamento da língua nos torne mais humanos. Voila...Sigamos, sem futuro e com um passado aberto e vivenciando o presente, porque é nele que mora o momento e a possibilidade da felicidade, de esquecermos que estamos vivos, porque quando há ela é assim...não existe noção de tempo, espaço ou mesmo existência.

É a língua que me mostra ambiguamente como ser uma pessoa melhor e conjugar minhas ações atemporais, as quais uma norma sem descrição jamais compreenderia...

PS: Este texto não teve revisão... Porque nesse momento de sentido não há revisão, talvez num futuro pretérito existirá, mas não agora...

Trilha Sonora do tempo: Roda Viva - Chico Buarque


3 comentários:

William Lima disse...

O mundo é a ilusão que queremos ser, ou a realidade que o passado trouxe.

Anônimo disse...

Daninha,

Vc é tão doce nas tuas escritas. que texto lindo sobre o tempo, menina.
lembrei-me de um músico do teatro mágico ( eu sei que vc adora)
" Tem horas que a gente se pergunta...
Porque é que não se junta tudo numa coisa só?." Teatro Mágico -
Mágramática
http://www.youtube.com/watch?v=mSlUyGxPW4M

Anônimo disse...

Daniela é ação sem tempo.
Júnior