quarta-feira, agosto 31, 2011

Transporte coletivo, chuva e outro olhar para a vida.


Acordei tão eufórica esta manhã que mesmo debaixo de chuva encarei uma corrida. A sensação de liberdade na chuva é algo indescritível. Corri 5km e cheguei em casa ensopada, e estranha ( meio Gregor Samsa)
Ah! E como chovia... (talvez lá fora e aqui dentro). Engraçado, há dias, nos quais tudo passa ser mais poético e doce, mesmo você se sentindo fora da ordem, que ordem eu ainda não sei... RS Por isso prefiro o caos. #toujour  Bem, o fato é que fiz algo que não fazia há tempos – pelo menos aqui na minha cidade, talvez por ela ser de médio porte e tudo ser pertinho. Fui para o trabalho utilizando o transporte público. Subi no ônibus, o qual para meu espanto não estava tão lotado por ser horário comercial. E me juntei aos meus iguais.

 O que mais me chama atenção em locais públicos são os rostos das pessoas. Cada qual com suas peculiaridades, sonhos, angustias, dores, amores e tristezas. Tudo tão evidente e ao mesmo tempo invisível. Porque só quando olhamos além dos olhos conseguimos perceber a vida e o sentimento do outro, pois na correria do dia a dia as pessoas não são notadas. A não ser que esteticamente ela seja destaque. RSS Enfim...é fato.

Tinha uma senhora antes da roleta com cara de cansada e olhos amarelados ( isso mesmo). Ela olhava para o nada e por mais que tentava fixar seu olhar para alguém ou um ponto qualquer do ônibus ela se perdia. Já tive olhares assim...Amarelados. Logo quando passei a roleta tinha um garoto que deveria ser secundarista com “ipod” nos ouvidos e os olhos cheios de vida e sonhos. Era claro tanta vida, que doía. Até pelo bom humor do menino e pela forma que ele dançava clandestinamente entre as pessoas. Sorri para ele e disse bom dia. Ele merecia bom dia.  Fui pedindo licença e vi que tinha um banco no fundo, na janela (eu amo janelas. Todas. RS). Ao meu lado, na outra fileira estava sentada uma moça. Uma senhorita bonita, que aparentava uns 20 anos, morena, cabelos longos e corpo esguio. Ela não largava o celular. Percebi que ela esperava desesperadamente uma ligação ou uma mensagem. Eu já me senti assim. A ansiedade dela era evidente, não se continha com as teclas, era como se o telefone fosse à chave para sua felicidade. Quanto sofrimento! Apesar de bela, seu semblante estava melancólico. Meu coração apertou como se comungasse sua dor por todas as ligações que esperei e não recebi. Por todas as mensagens que sonhei em receber e não recebi, e pelas que eu escrevi e apaguei sem coragem de enviar.  Neste momento a paisagem da cidade começou a me seduzir porque fazia sentido diante de tanta vida a minha volta, lugares que passo diariamente e não noto, agora, não são mais monocromáticos, mesmo no dia cinzento. A chuva provoca isso... Talvez. Os vidros gotejados. A vontade de desenhar neles toda a história viva aqui em mim. E o  mundo cabe na minha janela...

Ao descer do coletivo, lembrei-me de uma entrevista do cineasta Walter Salles, na qual ele dizia que o melhor local para cavar um roteiro era no meio do povo. E eu o compreendo perfeitamente. Dali sai com vários contos, roteiros e até romances na cabeça. E percebi que é o olhar que modifica nossa relação com o outro e com o mundo e quiça com a gente mesmo.

2 comentários:

William Lima disse...

Petit Daniela Bueno:
Não vou me cansar de falar: sua poesia é linda!
Correr na chuva, rabiscar na janela gotejado do ônibus, reparar os olhares e as ansiedades das pessoas no coletivo, lembrar-se de suas mensagens não enviadas, suas ligações não recebidas. Perceber-se no outro é algo fantásico, mas é preciso um dia especial para fazer disso poesia.
te adoro aos montes. bjs

Anônimo disse...

Daniela Paula me identifiquei com a moca pela sua identificação!!! Nos (Marias do bairro) sabemos das noites e dos dias a espera de uma ligação, uma mensagem, uma resposta q aplaque nossa ansiedade e sabemos como dói não recebeu nem um nem outro. Só um bom escritor consegue despertar esses sentimentos e coloca- los em palavras
Bj dani
Kelly aparecida