Acordei tão eufórica esta manhã que mesmo debaixo de chuva encarei uma corrida. A sensação de liberdade na chuva é algo indescritível. Corri 5km e cheguei em casa ensopada, e estranha ( meio )
Ah! E como chovia... (talvez lá fora e aqui dentro). Engraçado,
há dias, nos quais tudo passa ser mais poético e doce, mesmo você se sentindo
fora da ordem, que ordem eu ainda não sei... RS Por isso prefiro o caos. #toujour
Bem, o fato é que fiz algo que não fazia
há tempos – pelo menos aqui na minha cidade, talvez por ela ser de médio porte
e tudo ser pertinho. Fui para o trabalho utilizando o transporte público. Subi
no ônibus, o qual para meu espanto não estava tão lotado por ser horário comercial.
E me juntei aos meus iguais.
O que mais me chama
atenção em locais públicos são os rostos das pessoas. Cada qual com suas
peculiaridades, sonhos, angustias, dores, amores e tristezas. Tudo tão evidente
e ao mesmo tempo invisível. Porque só quando olhamos além dos olhos conseguimos
perceber a vida e o sentimento do outro, pois na correria do dia a dia as
pessoas não são notadas. A não ser que esteticamente ela seja destaque. RSS Enfim...é
fato.
Tinha uma senhora antes da roleta com cara de cansada e
olhos amarelados ( isso mesmo). Ela olhava para o nada e por mais que tentava
fixar seu olhar para alguém ou um ponto qualquer do ônibus ela se perdia. Já
tive olhares assim...Amarelados. Logo quando passei a roleta tinha um garoto
que deveria ser secundarista com “ipod” nos ouvidos e os olhos cheios de vida e
sonhos. Era claro tanta vida, que doía. Até pelo bom humor do menino e pela
forma que ele dançava clandestinamente entre as pessoas. Sorri para ele e disse
bom dia. Ele merecia bom dia. Fui
pedindo licença e vi que tinha um banco no fundo, na janela (eu amo janelas. Todas.
RS). Ao meu lado, na outra fileira estava sentada uma moça. Uma senhorita bonita,
que aparentava uns 20 anos, morena, cabelos longos e corpo esguio. Ela não
largava o celular. Percebi que ela esperava desesperadamente uma ligação ou uma
mensagem. Eu já me senti assim. A ansiedade dela era evidente, não se continha
com as teclas, era como se o telefone fosse à chave para sua felicidade. Quanto
sofrimento! Apesar de bela, seu semblante estava melancólico. Meu coração
apertou como se comungasse sua dor por todas as ligações que esperei e não
recebi. Por todas as mensagens que sonhei em receber e não recebi, e pelas que
eu escrevi e apaguei sem coragem de enviar. Neste momento a paisagem da cidade começou a
me seduzir porque fazia sentido diante de tanta vida a minha volta, lugares que
passo diariamente e não noto, agora, não são mais monocromáticos, mesmo no dia
cinzento. A chuva provoca isso... Talvez. Os vidros gotejados. A vontade de
desenhar neles toda a história viva aqui em mim. E o mundo cabe na minha janela...
Ao descer do coletivo, lembrei-me de uma entrevista do
cineasta Walter Salles, na qual ele dizia que o melhor local para cavar um
roteiro era no meio do povo. E eu o compreendo perfeitamente. Dali sai com vários
contos, roteiros e até romances na cabeça. E percebi que é o olhar que modifica
nossa relação com o outro e com o mundo e quiça com a gente mesmo.
2 comentários:
Petit Daniela Bueno:
Não vou me cansar de falar: sua poesia é linda!
Correr na chuva, rabiscar na janela gotejado do ônibus, reparar os olhares e as ansiedades das pessoas no coletivo, lembrar-se de suas mensagens não enviadas, suas ligações não recebidas. Perceber-se no outro é algo fantásico, mas é preciso um dia especial para fazer disso poesia.
te adoro aos montes. bjs
Daniela Paula me identifiquei com a moca pela sua identificação!!! Nos (Marias do bairro) sabemos das noites e dos dias a espera de uma ligação, uma mensagem, uma resposta q aplaque nossa ansiedade e sabemos como dói não recebeu nem um nem outro. Só um bom escritor consegue despertar esses sentimentos e coloca- los em palavras
Bj dani
Kelly aparecida
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