sábado, setembro 03, 2011

Estereótipos ou rótulos sinônimos de burrice, sim senhor!

A cada dia tenho mais a convicção que estereotipar e rotular o outro é uma tremenda burrice. E esta estupidez é uma forma de nos tornar refém e prisioneiros do silêncio consentido socialmente, onde todos são julgados “ad eternum” culpados  e não há voz nem chance de redenção. Como se o ser humano fosse uma reta, mas o fato é que somos dialéticos na essência.  Então... Pra que tanta segregação maniqueísta e preconceito?


Vou relatar algumas experiências pessoais, as quais foram um tapa na minha cara. Porque em muitos momentos tenho preconceitos e valores imbecis – e tenho a consciência disso, imaginem o tamanho da minha briga interna... Imaginem o tamanho do meu sofrimento. Porque consciência traz muito sofrimento. É duro ser educada numa sociedade cristã, onde tudo é pecado e que a culpa é  à base do controle social – e do próprio corpo e desejos-. L - , contudo acredito que esta minha clareza me favorece, apesar da dor, tenho um olhar mais tolerante e sensível ao meu igual. E isso me ensina a amar mais. #fato 


Bom, outro dia numa roda de conversa ouvi umas colegas dizendo que tal moçoila tinha determinado cargo porque a mesma “dava” para o chefe. Ei... Não eram homens. Eram mulheres. E este fato foi o que mais corroeu meu coração.  Percebi naquele momento o quanto ainda temos que lutar para sermos respeitadas, inclusive pelas nossas iguais. Basta a mulher ser bonitona e gostosona, que suas iguais (claro q homens também fazem isso) já a rotulam. Por que eu não posso ser bonita, sexy e atraente e ter um cargo? Esse conceito de que a beleza é inversa a intelectualidade  para mim é tão démodé que me cansa. Como quebrar este estereótipo? Eu adoro aprender, ler, debater e também gosto de ser bonita. 


Na mesma semana ouvi uns rapazes conversando. Na verdade, estavam criticando o momento “marcha das vadias” e as feministas. Gosto de ouvir porque ai consigo discernir como vai nossa sociedade. Eles rotulavam todas as feministas de mulheres feias, mal amadas, problemáticas e sexualmente frias. Sim. Era assim mesmo. Percebi que um deles me olhava com certo desejo. Claro, não perdi a oportunidade de humilhá-lo e mostrar que ele não me teria nunca e disse: Eu sou feminista (na verdade nem sei se sou, sei que luto pela igualdade de direitos). Eles arregalaram os olhos e o moçoilo que me desejava abaixou a cabeça ( neste momento soube que não teria chances comigo). E eu disse de forma doce e calma: acho que vocês deveriam repensar o conceito. Eles mudos. Percebi os machões totalmente covardes diante de mim. Descobri que estereótipo e rótulos também estão ligados a covardia. Depois, eu disse: Ah! E quanto à marcha das vadias é uma forma de nós –mulheres-  dizermos que nosso corpo é nosso, não de vcs, da igreja ou de ninguém mais e de que sentimos desejo sexual da mesma forma que vcs - homens. Queremos respeito e o direito de nos vestirmos como quisermos. E roupa curta, para a informação de vocês, não dá direito de ninguém me violentar. Respeitar o outro é obrigação, viu?  Os olhos deles tremiam. Eu podia sentir o medo daqueles babacas. E olha que eles nem desconfiavam que eu jogo capoeira. RS  Eles só conseguiram dizer que não era aquilo o que eles queriam dizer, a fuga de todo covarde que não se assume. 


Outro dia, num determinado ambiente familiar, estavam afirmando que bandidos serão bandidos para sempre. Aquela visão conservadora de que o homem é uma reta e quem não segue determinado padrão deve estar à margem social mesmo. Como se as pessoas não pudessem ter uma chance de mudança. Mas o fato é que uma das melhores pessoas que eu conheci nos últimos meses, foi condenada a 27 anos de prisão por assalto, tráfico, sequestro e outros crimes.  E é o exemplo vivo que desmorona qualquer argumento conservador neste sentido, por que não ajudar o outro? Depois a sociedade reclama da criminalidade que ela mesma alimenta. As grades somos nós que construímos. #prarefletir 


Bem, há 17 anos ele saiu da prisão e  fundou uma ONG e trabalha com jovens os tirando da criminalidade pela arte – na verdade ele me confidenciou que começou a fundar a ONG ainda na cadeia-.  Ele pagou sua divida social. Mas sua divida com ele mesmo será eterna. Mas ele não precisa de julgamentos, visto que já foi julgado e condenado pela sociedade e hoje é uma pessoa que respeito muito: pela sua simplicidade, humildade e por se admitir como é. Sem nunca ter lido Dostoievski , ele me disse- como se citasse trechos de “ Crime e Castigo” e eu nunca vou me esquecer “A divida social foi paga com a prisão, certo? Não. A prisão ta aqui (apontou para o coração) e esta é eterna. Só eu sei o sofrimento e  a punição que passo diariamente pelo mal que fiz ao outro. Só eu sei o que faço para não me matar. O amor me salvou. Por isso me sinto na obrigação de dar amor e ajudar os outros a saírem da criminalidade. Esta pessoa tem meu respeito e admiração e me fez quebrar preconceitos contra os ex-presidiários. Todos merecem uma chance. Esta pessoa, por sinal, é respeitada em todos os meios. Nunca vi isso. Seja na alta sociedade como na periferia. Caso não tivessem acreditado na sua mudança, o que seria dele hoje? Bem...com o conheço bem, acredito que ele seria o mesmo de hoje. =) A vontade dele de mudança é algo indescritível. Ademar Aparecido de Jesus, você tem minha admiração e tô aqui para ajudar sempre seus projetos, porque acredito neles.


Portanto estereotipar/rotular o outro é tão tosco que machuca o coração. Precisamos dar uma chance a humanidade e a tentar ver tod@s como irmãos. Ninguém é melhor que o outro. Tod@s são passiveis dos mesmos erros e dos mesmos acertos. 


Nota: Ouvi estes comentários de pessoas religiosas e que se acham salvas porque tem uma religião, ou porque estão enquadradas nos padrões sociais. Uma pena... mas essas pessoas nem devem saber o que é amor cristão de fato. Eu sou  atéia e mais cristã que qualquer um deles.  Indicaria para eles a leitura de Nelson Rodrigues. 


3 comentários:

Unknown disse...

Essa é a nossa sociedade.

Carrego comigo certos preconceitos também (acho que todo mundo, a unica diferença é que consigo dizer, "tenho preconceito...")Mas chego em certas conclusões idênticas as suas. Inexplicável? Não sei. A verdade que isso não passa de uma tremenda burrice, (caralho sou burro!!!) não muito. Tento compreender as coisas o máximo possível, ou respeita-las, não. Tarefa difícil, mas, tento.

No mais, parabéns. E a trilha sonora. Adoro, sou fã do Raul. #TocaRaul

Ângelo Von Tonitrus disse...

Esteriortipar é tão baixo. É levar as diferenças a baixo para se sentir no alto. Acho que dar esteriótipo é a própria alienação, é você limitar-se a pensar que a evolução não esta nos caminhos diferenciados que estão fora do comodismo cultural conservador do nosso dia-a-dia.
Esteriótipo, é sinônimo de cadeia, a cadeia da alma!
Como sempre seus textos são maravilhosos! Amei! Bjs! Adoro vc!

@sobrecomum disse...

Hoje mesmo fui chamado de machista por uma mulher pq falei que dividia as contas e as tarefas domésticas. A outra emendou com " homem bom é homem duro pq se eu deixar ele com algum dinheiro, ele vai gastar com outra. Eu trabalho pra ficar bonita e cheirosa. A casa e o filho quem sustenta é ele.