terça-feira, agosto 24, 2010

POSSIBILIDADES...E TODAS AS RETICÊNCIAS DO MUNDO.


A mãos estavam trêmulas, suadas e o coração não cabia no peito de tanto que batia. Não pulsava; explodia, a cada segundo, como uma bomba atômica. O coração da menina sofria um infarto a cada minuto. Ridicularizava o eletrocardiograma. O coração dela era todo colesterol, arritmia e compaixão. Ele era a casa da taquicardia quando pensava em ver aquele homem.

O ônibus entrava em São Paulo. Será que ele a aguardaria na rodoviária para um dedo de prosa e um café? A pergunta a consumia. O tempo parecia castigar aquela moça com fita de laço na cabeça. O laço era vermelho e o vestido também. Usava um chinelinho branco para contrastar com tanto vermelho, inclusive o do rosto, o qual queimava e acompanhava o (des)compasso do coração.

Ela olhou no relógio que marcava cinco horas da madrugada. Suspirou. Perguntou-se várias vezes se ele a acharia bonita e se ele a aceitaria como ela é: simples e dialética. O ônibus estava no horário, mas ela tinha uma sensação de atraso com a vida. E isso causava um desconforto no estomago, porque é nele que sentimentos as nossas dores existências, já afirmava Sartre. Filosofo. A menina com fita de laço no cabelo tinha relação estreita com a filosofia. Ele era filosofo, não somente Sartre. Mas ele também...Filosofo de vida. Ela desligou o MP4, pois o aparelho era composto por trilha sonoras que remetia a ele. O Mp4 era a personificação dele. Ela conversava com ele pelas cancões. O tempo todo. Nunca estavam distantes.

O ônibus acabara de entrar no terminal Barra Funda. Ela sentia as mãos e o corpo desfalecerem pela possibilidade dele estar lá a aguardando com um guarda-chuva. Ela desceu contidamente do ônibus parar tentar resistir, caso o avistasse, de se jogar em seus braços. Afinal, ela era uma moça de laço na cabeça e isso poderia assustá-lo. Ela desceu com as mãos cruzadas e com os olhos arregalados de uma noite de ressaca, como a Capitu do Machado. De primeiro momento ela não o avistou e foi ao bagageiro do ônibus retirar a bagagem. Pouca coisa. Apenas uma pequena bolsa marrom e todos os sonhos do mundo dentro dela. 


A moça estava nervosa e muito ansiosa. Ela foi se dirigindo as escadas rolantes, já sem esperança dele estar lá. Ela sobe as escadas rolantes de cabeça baixa e coração partido. De repente, ela ergue a cabeça e o avista no final da escada. De jeans e camiseta amarela, barba e um olhar atordoador e fixo na moça que subia as escadas. Na verdade a escada que subia a moça. E isso fazia a subida se tornar mais lenta.

Ele desconcertado oferece-lhe as maos quando ela chega ao topo. 

-Oi. Quase morri de tanto esperar. Estava com medo de descer as escadas e não encontrar você. Seu laço é bonito.

Ela sorri. E diz:

-Eu também estava com medo. Medo de não vê-lo, mas quando avistei sua camiseta amarela, seu olhar. Foi como se tivesse nascido naquele momento. Você está com fome?

Ele ainda sem jeito, apesar dos 44 anos, pois naquela hora parecia uma menino. Responde.

-Tenho fome de vida. De você. E de todas as suas LETRAS.

Com os olhos marejados ela diz:

-As letras são todas para você. Sempre foram. Mesmo antes de eu te conhecer, elas já eram para ti. Quando eu escrevo para você algo se transfigura em mim, algo que não sei explicar, mas a partir do momento que meus dedos tremulos te escrevem já não me pertence mais o texto. Ele é teu por direito.

-Não fale assim. Eu não aguento tanta paixão contida. Você é maravilhosa, doce e linda. O que eu posso esperar mais da vida.

-Você pode esperar tudo. Você merece tudo. Você é a possibilidade de sol.

-Assim vc me desconcerta, menina. Diz ele com olhar maroto.

-Quero todo seu (des)concerto , todas as suas notas musicais, todas as imagens do mundo. Quero o cinema mudo, sem palavras...Porque, às vezes o silêncio é necessário. Ele urge para vida.

Ele parecia perdido e temeroso diante da coragem da menina de se desnudar para ele. Ficando tão a sua mercê e tão fragilizada. Mas ele gostava da entrega. Então disse:

-Eu esperei minha musa por todos esses anos. E você aqui agora. Deixa tudo claro. Tão lúcido.

Ela sorri e pula em seus braços. Ele pediria calma a ela, mas desisti diante de tanta paixão. E o beijo é inevitável. As bocas coladas como se nada mais importasse. A mala no chão e os dois parecendo um, o beijo era o inicio de tudo. Da dor, da vida. As pessoas passavam pelo local com pressa, corridas, mas mesmo assim olhavam para o casal que não se desgrudava e não parava de se beijar. Como se naquele instante esta fosse a comunicação entre seus corpos e almas. Ele afasta a cabeça dela e diz:

-Assim você me mata. Mas eu quero morrer assim, morrer de amor. Vamos ao café.

Ela o agarra novamente como senão pudesse mais largá-lo com medo de ser abandonada. Ele não resite e nem se contem e a beija perdidamente e se perde naquela moça simples que carregava apenas sonhos. Ela o morde e diz:

-Agora eu quero o café. Vamos?

Ele sorri, de uma forma a qual jamais tinha sorrido antes e diz:

-Vamos. Vamos experimentar a vida.


E os dois seguem de mãos dadas para a padaria com todas as possibilidades do mundo de ser um só pronome e não mais eu e tu e sim NÓS. 

TRILHA SONORA DO DIA - A VIDA TEM DESSAS COISAS http://www.youtube.com/watch?v=ejtzY2Dhjpw&feature=fvw

"...DESDE AQUELA NOITE EU NUNCA MAIS ME ENTENDI...VC LEVOU MEU CORAÇÃO E LEVOU O MEU OLHAR..."  

3 comentários:

Anônimo disse...

Senhorita Daniela,

Q conto lindo! Vc fotografa as cenas e eu fiquei ansioso pelo encontro dos dois. Vc é uma poeta nata. Adorei sua foto. Vc tá cada dia mais linda.
Te adoro, menina!
Júnior

William Lima disse...

coração da minha vida:

O coração bate tanto que não cabe no peito? Então ele se enche de amor para bombeá-lo para cada partezinha do corpo... Realmente, uma explosão atômica de sentimentos!
Quanta ansiedade pela espera na rodoviária! E, novamente, o laço no cabelo...
O MP4 o personificando: "Ela conversava com ele pelas cancões. O tempo todo. Nunca estavam distantes." - que lindo isso!
Que lindo carregar na mala os sonhos!
Ai, Dani. Vc se supera a cada dia que passa. sua poesia é comovente. Sua literatura é maravilhosa - me leva pra além da realidade. Meu coração praticamente explode junto com a história: queria essa história pra mim!

te amo
bjos

Anônimo disse...

Me senti nas entranhas do texto... Vida explodindo em emoções que tentamos em vão mascarar.
A paixão nos deixa assim, cara de boba, olhando a lua, se sentindo metade, não uma coisa inteira , completa, como somos...Nós na garganta,tremores nas pernas fogo pelos poros.Uma coragem de Sansão.levanto o mundo e com cara de paisagem dou risada de tudo, paixão é isso... e quero viver completamente essa histõria, depois pego meus pedaçõs e sigo em frente.
Lindo... Dani!!!