O homem é o lobo do homem - Homo hominis lúpus – Tomás Hobbes
Em tempos de filmes de vampiros e lobisomens que subvertem à natureza dessas criaturas, as romantizando em excesso para se firmar como cultura de consumo entre os adolescentes; eis que surge uma esperança que quebra o modismo e resgata à natureza humana, a qual é tão abandonada nesses filmes em voga. O filme O Lobisomem, de Joe Johnston (2010), é uma releitura da película com o mesmo título, clássico original de 1941, ambientado na Inglaterra vitoriana, estrelado por Lon Chaney Jr.
O filme conta a história de Larry Talbot (Benicio Del Toro), um famoso ator de teatro na Inglaterra vitoriana, que vive isolado da família desde a infância, após ter presenciado a morte da mãe. O ator decide retornar a casa do pai (Anthony Hopkins) após ser procurado pela bela cunhada (Emily Blunt), que lhe pede ajuda para encontrar o noivo ( irmão de Larry) desaparecido. Larry decide procurar seu irmão e encarar seus fantasmas voltando para casa. Porém, ao chegar na sua cidade natal descobre que o irmão foi assassinado com requintes de crueldade e todas as circunstâncias que cercam essa a morte são permeadas de mistérios. Então, ele decide investigar o caso, mas depara-se com uma antiga maldição das noites de lua cheia e é atacado por uma fera, contudo sobrevive ao ataque. Mas, sobreviver aqui significa uma eterna luta contra sua natureza e toda a fera que vive em nós. Talbot começa sua assustadora transformação sob a lua cheia e não imagina que sua mudança é bem menos rara do que parece.
A obra é rica em seu cenário, atores e grandiosa em seu roteiro (de uma maturidade absurda), que mesmo sendo uma releitura não linguística de quadro a quadro do filme de 1941, não deve nada ao original. Del Toro está perfeito no papel de Larry Talbot, e dá vida a fera existente em cada um de nós com riqueza de detalhes, conseguindo trazer à tona o monstro e os mistérios por trás da lua cheia.
As cenas inicial e final do filme é a leitura de um texto, onde é dito que é pecado matar um homem, mas não é pecado matar um monstro. Porém, onde começa um e onde termina o outro? Uma indagação que persiste o filme todo na cabeça do expectador, pois o filme não se resume em bem e mal. A fera tem noção de sua condição de monstro e da sua humanidade. O lobisomem de Del Toro fascina pela sua essência, pois o monstro anda como um homem, corre feito um lobo e não é cheio de efeitos especiais, o que o torna exageradamente real. Retomando a critica aos lobisomens atuais adolescentes, os quais passam o filme todo mostrando o corpo definido e seus olhos cheios de um romantismo infantil, o lobisomem de Del Toro mostra a face da fera: selvageria pura, natureza exacerbada, ação e um banho de sangue e morte com requintes de crueldade. Assim como a fera é... Livre de preceitos morais.
O diretor também aborda a questão dos conflitos familiares em torno de maldição da lua, pois a relação de Larry com o pai é de amor e ódio, sendo o ódio muito mais atuante em suas vidas. Larry não perdoa o pai por ter lhe trancado grande parte da infância num manicômio, e depois ter sido enviado para os Estados Unidos da América para viver com familiares. E por outro lado, o pai não sente culpa pelos seus atos, encarando sua fera de forma natural. O pai aceita o monstro e Larry luta contra sua condição.
Outro ponto que me chamou atenção no filme é a analogia Luar-Fera, em certo momento do filme: Anthony Hopkins, numa prosa com Del Toro, declara-se apaixonado pela lua de uma maneira intensa e insana, comparando-a com uma mulher, argumentando que esse tipo de influência passional poderia causar mortes, destruição, inquietude à alma, ansiedade e a revelação da face do outro eu, do que age por instinto. Talvez, por isso o filme assuste e afaste tanto as pessoas e não tenha feito tanto sucesso de bilheteria. Afinal, ele exalta a fera como ela é, sem máscaras, e sem aquele romantismo comercial dos filmes de vampiros/lobisomens atuais. Indico o filme não só para os amantes do gênero terror, todavia para todos que gostam de reflexão da arte e de uma boa história não maniqueísta. O filme reafirma a frase do filósofo empirista Tomás Hobbes – O homem é o lobo do homem – ou seja, ninguém esta protegido do estado natural das coisas (insegurança, angustia, violência, etc), pois ele é para todos. E o homem, segundo Hobbes não sabe lidar com esse estado natural, por isso busca na vingança uma forma de parecer superior sobre todas as outras criaturas.
TRILHA SONORA DA MANHÃ - O LOBO - PITTY - http://www.youtube.com/watch?v=ZchIDwBjt-k
VEJA O TRAILER DO FILME - O LOBISOMEM - http://www.youtube.com/watch?v=SFiok45C7tg
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