sábado, novembro 03, 2012

Por um céu mais azul como o de Suely...



Ontem decidi assistir ao filme “ O Mandarim” (1995) de Júlio Bressane, mas devido a alguns problemas técnicos da minha cópia pedagógica  desisti e o troquei pelo  filme “ O céu de Suely”(2006) do Karim Aïnouz ( mesmo diretor de Madame Satã). Na verdade eu queria ver “ O céu de Suely” já tem um tempinho e talvez essa troca tenha sido uma das melhores surpresas e sabores do último mês. 

O filme é na essência feminino/feminista ou mais que isso é humano. Conta a história da jovem Hermila( interpretada pela brilhante atriz Hermila Guedes)   que retorna a cidade de Iguatu no interior  Ceará depois de viver um tempo em São Paulo tendo engravidado do namorado Matheus. A moça retorna para sua cidade natal com um filho pequeno e com a esperança/promessa  na bagagem de que seu namorado volte para o Ceará em um mês. Até ai pareceria uma história convencional e nada original senão fosse o céu, a genialidade do roteirista e do diretor de fotografia. 

A primeira cena remete da  um sentido de felicidade ordinária  ao filme, na qual  Hermilia narra como engravidou: “ Eu fiquei grávida num domingo de manhã, tnha um cobertor azul de lã escura. Matheus me pegou pelo braço e disse que ia me fazer a pessoa mais feliz do mundo. Me deu um cd gravado com todas as músicas que eu gostava...Ele disse que queria casar comigo ou então morrer afogado” Protagonista em off com imagens dos namorados ao fundo – imagens não muito nítidas que já revelam a virada da história e do coração de Herminia em relação a vida.    

A nossa protagonista é acolhida pela tia e pela avó e retoma a vida na pequena cidade a espera do mês prometido que nunca chegou, pois o namorado desaparece juntamente com a promessa de reencontro. Hermila se vê só. Completamente só. E deseja na sua solidão  partir para o local, onde o céu seja mais azul, mais longe que existir de Iguatu, contudo não tem dinheiro. E para conseguir a grana decide rifar seu corpo e oferecer uma noite no paraíso para o ganhador. E inventa a Suely. 



O filme é belo de um olhar suavemente feminista, contando a história da nossa  Hermilia que sofre as consequências do machismo, desde quando chega a cidade. De chegar com filho, de ser abandonada, da decisão de rifar seu corpo e de ir embora. Como se a sociedade não entendesse ( e não entende) que ela tem desejos, sonhos e vontade. E mais...que o seu corpo pertence  a ela e rifar ou não é um problema dela. Uma das cenas que me chamou atenção é quando Herminia procura a mãe de Matheus para lhe pedir  ajudar e a mãe do moço lhe diz: Meu filho é muito jovem para ter responsabilidade de criar um filho. E a moça rebate: E eu? Na cena é nítida a construção social do machismo, a qual Herminia não quer aceitar mais.


O diretor utiliza um recurso interessante no filme ela dá o nome dos atores aos seus respectivos personagens da história. Interessante porque isso parece dar mais espontaneidade à atuação. Agora a idéia do céu fazer parte do filme é genial. Pois para entender a obra no todo é preciso olhar para o céu, porque ele tem voz na película: de um silêncio que grita. O céu:  a vastidão do infinito, os sonhos, a liberdade,  a vida, o oceano de possibilidades;  tudo incorporado na nossa protagonista que horas se confunde com o firmamento. É...é o céu de uma liberdade sem precedentes que ela é e quer descobrir...

O céu de Suely é um filme sensível na essência que permite questionamentos sobre a condição da mulher seja em qualquer lugar do mundo( nada de regionalista, universal). Um filme que poderia ter uma história rotineira que foi se modificando com a atuação da protagonista, pela habilidade do roteirista e pelas tonalidades do céu.  Um final extraordinário que quebra os padrões e o ordinário e mais... mostra a emancipação de uma mulher que entende que sua felicidade não está nos braços de um macho e sim em si e na liberdade do céu azul. A imagem da motocicleta voltando sem Hermilia na garupa é de um significado azul. Filme que vale cada segundo da vida.

Ps: A trilha sonora é uma delicia a parte. Composta por músicas ditas “ bregas” e por traduções de música românticas da língua inglesa.


4 comentários:

Anônimo disse...

Esse filme é maravilhoso na mesma proporção que vc. Por que não me dá uma chance? O que acontece contigo?

Anônimo disse...

Danica...este film foi debatido no cine-debate que acontece aos sab na Casa do Médico...sou apaixonada por este há alguns anos...
O céu azul hoje...
Bjinhos...

Elias disse...

O seu texto me arrepiou... Vou descobrir onde baixar este filme. Obrigado! <3

Elias disse...

Caso a Daniela permita, segue o link para baixar o torrent do filme: http://www.omelhordatelona.biz/genero/drama/2822-o-ceu-de-suely.html