sábado, novembro 03, 2012

Se eu amo Morangos Silvestre por que não amaria Morangos do Nordeste?



Nunca me imaginei cantando a canção Morango do Nordeste com tanto gosto como de ontem para hoje, depois que ouvi a canção  na película “ Viajo porque preciso, volto porque te amo”, mas agora canto sem preconceito algum...apenas com o coração repleto de lembranças boas. “Com essa mulher, eu  vou até pra guerra...” Afinal se eu amei os morangos de Bergman tão silvestres por que não amar os morangos de Karim e Marcelo? Os quais são tão saborosos quanto ao do meu cineasta favorito. Desnuda-se de seu preconceito idiota e entenda o que é ser um morango no nordeste…#FicaaDica 

Ontem quando terminei de assistir ao filme “ O Céu de Suely” do Karim Ainouz( Madame Satã) , um amigo querido me recomendou o filme “ Viajo porque preciso, volto porque te amo” do mesmo diretor em parceria com Marcelo Gomes (diretor de  Cinema, Aspirinas e Urubus) ...como boa cinéfila e como não resisto a uma boa dica....busquei a cópia pedagógica na mesma hora. E eis que mais que encantada agora sou....estou e vivo. Porque na boa arte tem muito da ação: Transformar. =) 

O filme é um “ Road Movie”, praticamente um cinema experimental, dirigido pelos grandes cineastas nordestinos ( é importante destacar sim...porque pra mim é o fim do monopólio criativo do eixo Rio-SP) Karim Aïnouz e Marcelo Gomes. Mas adianto... Se você curte muito ação, este filme parecerá moroso e tedioso, pois é uma viagem narrada em primeira pessoa, portanto quebre seu preconceito e viva essa viagem pelo sertão/interior do Ceará como se estivesse lendo um diário. Senão... Tudo será muito tedioso de aguentar e será uma pena não entender tanta lindeza traduzida em imagens e poesia. 


Vale destacar que as imagens foram gravadas muito antes do roteiro estar pronto e do filme ser uma realidade. Ou seja, a experimentalidade  é um processo vivo aqui na película.  Bem...O filme conta a história de Renato, um geólogo,  que cruza o estado para avaliar as condições do terreno e estudar a viabilidade de um canal na região. Renato nunca será visto no filme, só ouvido. Estranho isso, porque muitas vezes me imaginei no lugar do protagonista. Louco até... (sou louca?) O filme é narrado em primeira pessoa, ordenado por imagens documentais atemporais, recolhidas antes de o roteiro nascer... A narração é em off. 

A saga inicia-se na voz de Peninha com a canção “Sonhos”  numa estrada solitariamente noturna. “...quando o meu mundo e todo mundo admitia uma mudança muito estranha, mais pureza, mais carinho mais calma, mais alegria no meu jeito de me dar...” e depois o narrador sempre em off falando de saudades sem complemento e do seu cotidiano de viajante.

No inicio do filme a narração é tediosa, quase mecânica, limitando-se a colocar a experiência cotidiana e falando de uma saudade que nunca exigira complementos... Mas que  com o desenrolar da viagem...entendemos a desgraçada saga do nosso narrador...permeada de solidão e tristeza que se confundem com o árido sertão. E neste momento me lembrei de Guimarães Rosa, o qual dizia que o Sertão está na gente...



Até a metade do filme pensamos que nosso  protagonista sofre apenas com a saudade, mas depois entendemos que ele sofre a saudade doída do abandono. E a aridez do sertão é análoga a tão grande sofrimento e solidão. Como na fala: 

“... Já cansei de responder cartas que você nunca mandou...Fiz essa viagem para tentar te esquecer e só foi pior...eu só faço lembrar sem parar. Este lugar tá virando um pesadelo! Pela primeira vez tenho vontade de largar tudo...Largar a viagem, meu emprego, meu trabalho de geólogo, minha vida e me perder num labirinto...num labirinto sem saída...gotas de orvalho artificiais em flores de plástico...Fico olhando só p flores e pessoas...não aguento mais tentar te esquecer " Protagonista do filme em Off.

E mais: 

“... Sinto amores e ódios repentinos por você... Viajo porque preciso, e NÃO volto porque AINDA te amo... nada é eterno, nem um acampamento de beira de estrada, nem as falhas geológicas... nem o amor é eterno... até o amor se acaba..."  Renato em Off.

O filme termina com uma recitação visceral da canção de Noel Rosa – Último Desejo-, a qual não sai de meu coração desde sexta-feira(2), presságios? Não sei...Sei apenas que sinto. 

" ...Nosso amor que eu não esqueço e que teve o seu começo num festa de São João. Morre hoje sem fogete, sem retrato, sem bilhete , sem o luar, sem o violão...perto de vc me calo: tudo penso, nada faloe tenho medo de chorar . Nunca mais quero teu beijo, mas meu único desejo vc não pode negar: diga que vc lamenta e chora a nossa separação...sempre diga q eu não presto, e q eu arruinei tua vida...." Noel rosa 


Apenas relato que  o narrador, apesar de invisível aos olhos, está presente em toda obra: com sua voz. E que dependendo do tom da sua voz, choramos, sorrimos, enfim... Um emaranhado de sensações é nos dado, apenas pelo um tom vocal. Mesmo que ele signifique repetições cotidianas de situações rotineiras que nos modificam na essência. De qualquer maneira um belo exercício cinematográfico. Fica a Dica. 

Post dedicado ao meu amigo Adrialdo, o qual me indicou tamanha lindeza. 

6 comentários:

Anônimo disse...

Alguém já disse para vc que vc é a mulher dos sonhos de qualquer cabra macho?
Vc é apaixonane, garota.

Anônimo disse...

Daninha, eu vi este filme. É lindo. E vc o descreve com mastria...Vc é uma linda. Te adoro. Júnior.

Anônimo disse...

Eu te amo! Sol.

Anônimo disse...

Meu Morango do nordeste.

Anônimo disse...

Tem muito azul em torno dele
Azul no céu , azul no mar
Azul no sangue à flor da pele
Os pés de lotus de Krishna
Tem muito azul em torno dela
Azul no céu , azul no mar
Azul no sangue, à flor da pele
As mãos de rosa de Iemanjá

Anônimo disse...

O pé na Índia, a mão na África
O pé no céu , a mão no mar
Tem muito azul em torno deles

Para retribuir a delicadeza do post e pela imensa alegria por você ter gostado do filme, te ofereço o que acho mais bonito no mundo, o azul.
Beijo
Adrialdo