Nunca me imaginei cantando a
canção Morango do Nordeste com tanto
gosto como de ontem para hoje, depois que ouvi a canção na película
“ Viajo porque preciso, volto porque te amo”, mas agora canto sem
preconceito algum...apenas com o coração repleto de lembranças boas. “Com essa mulher, eu vou até pra guerra...” Afinal se eu amei os morangos de
Bergman tão silvestres por que não amar os morangos de Karim e Marcelo? Os
quais são tão saborosos quanto ao do meu cineasta favorito. Desnuda-se de seu
preconceito idiota e entenda o que é ser um morango no nordeste…#FicaaDica
Ontem quando terminei de
assistir ao filme “ O Céu de Suely” do Karim Ainouz( Madame Satã) , um amigo
querido me recomendou o filme “ Viajo
porque preciso, volto porque te amo” do mesmo diretor em parceria com
Marcelo Gomes (diretor de Cinema,
Aspirinas e Urubus) ...como boa cinéfila e como não resisto a uma boa dica....busquei
a cópia pedagógica na mesma hora. E eis que mais que encantada agora sou....estou
e vivo. Porque na boa arte tem muito da ação: Transformar. =)
O filme é um “
Road Movie”, praticamente um cinema experimental, dirigido pelos
grandes cineastas nordestinos ( é importante destacar sim...porque pra mim é o
fim do monopólio criativo do eixo Rio-SP) Karim Aïnouz
e Marcelo Gomes. Mas adianto... Se você curte muito ação, este filme parecerá
moroso e tedioso, pois é uma viagem narrada em primeira pessoa, portanto quebre
seu preconceito e viva essa viagem pelo sertão/interior do Ceará como se
estivesse lendo um diário. Senão... Tudo será muito tedioso de aguentar e será
uma pena não entender tanta lindeza traduzida em imagens e poesia.
Vale
destacar que as imagens foram gravadas muito antes do roteiro estar pronto e do
filme ser uma realidade. Ou seja, a experimentalidade é um processo vivo aqui na película. Bem...O filme conta a história de Renato, um geólogo,
que cruza o estado para avaliar as
condições do terreno e estudar a viabilidade de um canal na região. Renato
nunca será visto no filme, só ouvido. Estranho isso, porque muitas vezes me
imaginei no lugar do protagonista. Louco até... (sou louca?) O filme é narrado
em primeira pessoa, ordenado por imagens documentais atemporais, recolhidas
antes de o roteiro nascer... A narração é em off.
A saga inicia-se na voz de
Peninha com a canção “Sonhos” numa
estrada solitariamente noturna. “...quando
o meu mundo e todo mundo admitia uma mudança muito estranha, mais pureza, mais carinho mais calma, mais alegria no meu jeito de me dar...” e depois o narrador
sempre em off falando de saudades sem complemento e do seu cotidiano de
viajante.
No inicio do filme a
narração é tediosa, quase mecânica, limitando-se a colocar a experiência cotidiana
e falando de uma saudade que nunca exigira complementos... Mas que com o desenrolar da viagem...entendemos a desgraçada
saga do nosso narrador...permeada de solidão e tristeza que se confundem com o árido
sertão. E neste momento me lembrei de Guimarães Rosa, o qual dizia que o Sertão
está na gente...
Até a metade do filme
pensamos que nosso protagonista sofre
apenas com a saudade, mas depois entendemos que ele sofre a saudade doída do
abandono. E a aridez do sertão é análoga a tão grande sofrimento e solidão. Como
na fala:
“... Já cansei de responder cartas que você
nunca mandou...Fiz essa viagem para tentar te esquecer e só foi pior...eu só
faço lembrar sem parar. Este lugar tá virando um pesadelo! Pela primeira vez
tenho vontade de largar tudo...Largar a viagem, meu emprego, meu trabalho de geólogo,
minha vida e me perder num labirinto...num labirinto sem saída...gotas de
orvalho artificiais em flores de plástico...Fico
olhando só p flores e pessoas...não aguento mais tentar te esquecer " Protagonista do filme em Off.
E mais:
“...
Sinto amores e ódios repentinos por você... Viajo porque preciso, e NÃO volto porque AINDA te amo... nada é eterno, nem um acampamento de
beira de estrada, nem as falhas geológicas... nem o amor é eterno... até o amor
se acaba..." Renato em Off.
O filme termina com uma
recitação visceral da canção de Noel Rosa – Último Desejo-, a qual não sai de
meu coração desde sexta-feira(2), presságios? Não sei...Sei apenas que sinto.
"
...Nosso amor que eu não esqueço e que teve o seu começo num festa de São João.
Morre hoje sem fogete, sem retrato, sem bilhete , sem o luar, sem o violão...perto
de vc me calo: tudo penso, nada faloe tenho medo de chorar . Nunca mais quero
teu beijo, mas meu único desejo vc não pode negar: diga que vc lamenta e chora
a nossa separação...sempre diga q eu não presto, e q eu arruinei tua vida...." Noel rosa
Apenas relato que o narrador, apesar de invisível aos olhos,
está presente em toda obra: com sua voz. E que dependendo do tom da sua voz,
choramos, sorrimos, enfim... Um emaranhado de sensações é nos dado, apenas pelo
um tom vocal. Mesmo que ele signifique repetições cotidianas de situações
rotineiras que nos modificam na essência. De qualquer maneira um belo exercício
cinematográfico. Fica a Dica.
Post dedicado ao meu amigo Adrialdo, o qual me indicou tamanha lindeza.
6 comentários:
Alguém já disse para vc que vc é a mulher dos sonhos de qualquer cabra macho?
Vc é apaixonane, garota.
Daninha, eu vi este filme. É lindo. E vc o descreve com mastria...Vc é uma linda. Te adoro. Júnior.
Eu te amo! Sol.
Meu Morango do nordeste.
Tem muito azul em torno dele
Azul no céu , azul no mar
Azul no sangue à flor da pele
Os pés de lotus de Krishna
Tem muito azul em torno dela
Azul no céu , azul no mar
Azul no sangue, à flor da pele
As mãos de rosa de Iemanjá
O pé na Índia, a mão na África
O pé no céu , a mão no mar
Tem muito azul em torno deles
Para retribuir a delicadeza do post e pela imensa alegria por você ter gostado do filme, te ofereço o que acho mais bonito no mundo, o azul.
Beijo
Adrialdo
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