segunda-feira, outubro 01, 2012

Sobre silêncios e saudade

Sempre tive problemas com silêncio. Sempre. Talvez porque ele sempre pareceu algo que me prendia a angustia. Não sei. Ou talvez porque na infância todas as minhas broncas eram em forma de silêncio e nunca de diálogo. Silêncio é ausência de todas as formas. É o tédio que personifica como algo avassalador.

Porém com certa maturidade ( diga-se de passagem muito pouco RS) compreendi que ele é importante algumas vezes, em determinados momentos da vida. Mesmo que o silêncio, parafraseando Nietzsche, carregue todo o tédio do mundo, porque sem música seria muito chato e pesado viver. E é essa ausência que grita, porque não pode mais viver num silêncio clandestino, pois isso seria ao mesmo tempo alimentar o tédio.

Eu sou cheia de faltas na essência e na existência. E sinto falta. Sinto faltas sempre sem complemento... Sinto falta do teu olhar noturno e visceral, por vezes triste, outras alegres e cheios de tesão. Sinto falta da tua voz...que sereniza o som do vento levando todo o silêncio para o lado de lá. Sinto falta de mim, porque até então não sabia nada de mim. Sinto falta da palavra janela proferida e articulada pela tua boca. Compreendo a vida por janelas agora depois que você me explicou a vida... Como se todo o processo de sonhos, vida estivesse em alguma janela do tempo, onde as lacunas não seriam vírgulas e sim reticências e a possibilidade de pular a janela e desafiar Kronos para me jogar nos teus braços. Depois dessa janela...todas as outras se fecharam.

Sinto tanta falta que dói. Uma dor aguda. Sinto falta de te beijar na hora errada e dizer bobeiras, de rir e chorar no teu beijo...Porque sou passional, daquelas que diz, age e faz loucuras em qualquer lugar ou a qualquer momento. Mas não porque eu quero, porque é a sina do meu coração e porque dói tanto que quase não me controlo. Choro. Grito sozinha em silêncio sufocante tua ausência.


O que eu faço com o "bulaquinho" que sinto dentro de mim qdo vc não está? O q faço? :(

 
Mas agora entendi que apesar de dor... quase passa a saudade, quando escrevo, canto, ouço música ou desenho o sol. Esses são os dias em que não choro e sim sonho...Mas ai abro minha leitura e te encontro nela, em todas páginas, pois a indicação da leitura é tua. E ai bate uma saudade sufocada, não gritada e sem musicalidade. E não te alcanço para falar da nossa dor, porque você está fechado em teus silêncios e tempos. Preso. E eu tento compreender...e ao mesmo tempo desafio Kornos para viver com Kairos e ter nosso tempo.

No fundo, você é o que eu descubro em cada saudade não dita. Em cada texto não escrito. Em cada lágrima não enxugada e na cama vazia. Nas luas que passam e no meu cabelo que cresce, o qual você não percebe. A vida me lembra de ti diuturnamente. A vida me lembra que você não está aqui, para compartilhar as peripécias dela contigo. Eu volto um pouco no tempo, só um pouco... e me lembro da despedida. E sempre me pergunto: O que eu disse de errado?

E agora eu só queria saber mais dessa falta doída. Das tuas coisas, das suas canções. Do futebol. Da cachaça na esquina. Das garotas tristes e apaixonadas como eu. Da rua e da esquina. Da Praça. Daquele banquinho. Da leitura que fiz para ti. Da exposição. Ou mesmo queria saber que canção te faz chorar. Ah! Talvez eu saiba desde que copiei todos os arquivos das suas canções. Eu nunca te disse tantas coisas. Nem disse o quanto é bom te amar, apesar das faltas, do silêncio. Eu nunca disse como é bom ter você por perto, mesmo que te espie por uma janela. Sentir teu hálito e teu olhar escorregar pelo meu rosto. Eu nunca falei olhando pra ti como é bom comer segurando tuas mãos, ouvindo suas histórias compartilhando nosso conhecimento e trocando energia. Ou mesmo, que só o fato de você estar perto de mim me torna uma pessoa infinitamente melhor, muito mais corajosa e decidida. Sinto tanta saudade, mas o silêncio me separa mais de ti. Compreenda. Sem canções não há amor possível. Seria como se a ausência pesasse e sangrasse todas as manhãs, mas quando você fala, a linguagem das coisas e do coração, a fala dos gozos, sinto que sua voz – personificada em você – sobreviverá a mim e em mim. Porque somos feitos de canções e de todas as letras que se juntam para poetizar vida ou poetizar o amor.



Trilha sonora do dia – Pedaço de Mim – Chico Buarque

Um comentário:

William Lima disse...

A falta do toque faz a saudade bater e machucar, e o silêncio faz as dores se acentuarem ainda mais.
Você tem uma fábrica de sentimentos dentro de si, não uma fábrica mecânica, mas artesanal, e isso tudo explode em poesia para quebrar seu silêncio. Lindamente.