segunda-feira, outubro 22, 2012

Malbec é também coisa de menina, sim sinhô!


Nada me irrita mais que atitudes sexistas, do tipo: isto é para homem, ou isto é para mulher. Como se o mundo fosse dividido em azul e rosa. Essa construção social me tira do sério profundamente. Confesso que algumas vivências com esse tipo de comportamento são minimamente deprimentes para quem luta pelo fim do sexismo e machismo. Mas é algo ainda tão longe de terminar. :(

Ontem lendo uma revista especializada em vinho, que agora o nome não vem ao caso, deparei-me com algumas classificações de um sommelier  a respeito de algumas uvas. E duas em especial me chamaram atenção, até pelo fato de eu gostar muito de ambas – são as minhas prediletas-. No texto o sommelier classificava o Malbec como uma bebida tipicamente MASCULINA, pois era forte, tinha mais corpo e mais gosto amadeirado. Já o Pinot Noir era uma bebida mais FEMININA porque tinha algo de doce, era mais frutado. No momento que passei os olhos na matéria tive vontade de jogar a revista, porque esse “ trololó” de vinho para homem ou mulher é tão fake...quanto toda segregação que foi construída socialmente, durante anos,  para diferenciar coisas de homens e mulheres. Isso cansa...



O fato de um vinho ser mais forte ou encorpado não, necessariamente,  deveria sugerir uma classificação de gênero, né mesmo? Como se ele fosse voltado e indicado somente para público masculino. Bem...Eu adoro vinhos. Não sou exímia conhecedora, nem de longe. Sou boa bebedora e me interesso pelo assunto (quiça um dia estude sobre vinhos porque amo o assunto). Todavia nessa minha aventura pelos “bacanais” sempre preferi bebidas encorpadas, fortes e bem avermelhadas, assim como o sangue (o vinho é vida, né Ricardo Bueno? Lembrando da mistura do malbec com sangue na galinha ao molho pardo, feita, neste sábado, pelo Ri e pela nossa mãe.). O Malbec tem isso, essa coisa sexy, agressiva na medida, forte ( como se todas as coragens do mundo estivesse nele) e aquela coisa que parece um encontro de paixão a primeira vista ( aquele gosto de sempre querer mais. Porque intensidade pouca é besteira) . E é nesse gosto e nessa uva que me encontro e não sou nada masculina. Muito pelo contrário. É essa uva que mais ser eu de fato e é nela que mora todo meu amor.



Já o Pinot Noir é maravilhoso: frutado, mas suave sem ser suave... Há uma doçura clandestina nele. Assim como nos amores proibidos. E um gosto de leveza sempre no final da taça. Também o adoro, mas não porque ele é classificado como do gênero feminino, mas por compreender que a vida também necessita de sabores assim e eu sei apreciar.

Gostaria de dizer ao “ estudioso do assunto” que eu tenho amigos homens que amam Pinot, muito mais que gostam de Malbec; mesmo sendo o Pinot Noir rotulado como uma bebida  tipicamente feminina.  Por isso limitar uma classificação de vinhos quanto ao gênero  é burrice, porque no vinho mora a liberdade de sermos nós. A liberdade de sabores e a de dar sabor a vida. Lembrando que degustar a vida  não é coisa de homem ou mulher;  é um desejo humano apenas – assim como o anseio de liberdade-.  Portanto, Seu Sommelier...Malbec é coisa de menina na mesma proporção que é para menino, inclusive pela sua SUPERLATIVIDADE.

Nota: Quando se luta pela isonomia de direitos. É importante contestar nas pequenas coisas, pois só assim que se começa uma nova construção de modelo  social. Não devemos aceitar pequenas segregações como algo natural.

Um comentário:

Anônimo disse...

Olá, boa noite!
maravilhoso o seu post, parabéns!
se talvez vc estivesse a procura de uma companheira para essa luta, vc acabou de encontra-la! Sexismo não está com nada! Acho vergonhoso em pleno século XXI nossa sociedade ainda teimar em querer levar adiante essa segregação por gênero! Santa estupidez Batman! Não existem "coisa de homem" ""coisa de mulher". Existe gosto/não gosto de...
e pronto! É que não tem jeito parece que sempre haverá quem ainda queira ressuscitar estes paradigmas sem fundamento para descontar nos outros a propria falta de coragem para ousar, mas enfim. Temos braços fortes por nos e pelos outros para "remar contra a maré".
bom, acho que era isso que eu queria manifestar. Mais uma vez, meus parabéns pelo seu belo escrito! Muita sorte e sucesso a vc! Bjs. :-* Raquel.