Há dias que ando com o pensamento no poetinha. O mesmo que na minha adolescência me rendeu a poesia . Aquele do pagode e do perdão. Aquele que fala a alma e entende tanto de amor e poesia...( que dizia que a vida era pra valer...) e de bebida que roda em minha volta...como o movimento de translação em torno do sol.

A primeira vez que fui a Salvador/BA foi em 2008. Fui fazer um concurso. Acho que fiquei na capital baiana 4 dias. Hospedei-me na Barra...mas conheci tudo a pé. Acho que foi a primeira vez que realmente viajei sozinha. Sozinha, sozinha, não tinha ninguém para prosear e de repente tinha todo o mundo. E foi ótimo. Conheci gente, comi na casa de pessoas que me conheceram na rua, para as quais eu era uma completa desconhecida... Bebi cerveja na praia com pessoas que eram poesias personificadas. Conheci o Baixo Sapateiro... e lá conheci de perto o candomblé. #sarava

Mas o que fazia meu coração descompassar ansioso era a canção do Vinicius – Tarde em Itapuã-; e eu como boa vagabunda que sou – assumida - andava por Salvador e não tirava a praia de Itapuã da mente e do coração. Na tarde de segunda-feira – porque para um bom vagabundo tinha que ser na segunda, né? – peguei um ônibus coletivo... andei ...andei...e cheguei em Itapuã.

É indescritível a sensação que tive quando olhei o mar pelos olhos do poeta. Só sei que pensava...o poetinha sentou aqui neste banco, comeu e amou aqui....ficou debaixo destes coqueiros...cantou e falou de amor aqui. Chorei de uma emoção plena e também difícil de traduzir em palavras. Ficava imaginando num dia para vadiar, o calção de banho desbotado... vermelho do Vinicius. Lembrei-me da esteira de vime, da água de coco e da cerveja não cantada....e sorri. Retrato mais lindo para a poesia de um vagabundo. Sentei...e olhava perdida para além mar, porque naquele momento eu sentia a terra toda rodar. Sentia mais...eu era a canção de Vinicius de Morais. E, pensei, como entendo esse homem. Olhava as moças bonitas de corpos esguios e queimados... os moços com músculos saltados...que me atiçavam para o amor. Os homens magrelos e barbudos falando de poesia... os hippies...os comunistas...e os homens que falavam de amor em Itapuã. Os homens todos que queriam me amar...eu sabia, eu sentia, porque ali eu era a poesia para ser tocada e dedilhada. Porque queria dormir em braços morenos, como na música. Ai depois do amor... ouvi de lua, mar e de um tanto de poesia que não caberia neste blog. Sorri e cachacei...e compreendi que o amor que quero viver é este ( como passar uma tarde em Itapuã) e não o convencional, o social. Quero um amor que fale de amor...que viva o sentido pleno da palavra. De resto...não me interessa. E viva o poetinha, que soube como ninguém viver da poesia e a poesia. E amou intensamente...

Nota: Talvez tenha pensando muito no Vinicius de Morais porque ele fez aniversário sexta-feira (19). Talvez....

Tarde em Itapuã

Um velho calção de banho
Um dia prá vadiar
O mar que não tem tamanho
E um arco-íris no ar...
Depois, na Praça Caymmi
Sentir preguiça no corpo
E numa esteira de vime
Beber uma água de côco
É bom!...
Passar uma tarde em Itapuã
Ao sol que arde em Itapuã
Ouvindo o mar de Itapuã
Falar de amor em Itapuã...
Enquanto o mar inaugura
Um verde novinho em folha
Argumentar com doçura
Com uma cachaça de rolha...
E com olhar esquecido
No encontro de céu e mar
Bem devagar ir sentindo
A terra toda rodar
É bom!...
Passar uma tarde em Itapuã
Ao sol que arde em Itapuã
Ouvindo o mar de Itapuã
Falar de amor em Itapuã...
Depois sentir o arrepio
Do vento que a noite traz
E o diz-que-diz-que macio
Que brota dos coqueirais...
E nos espaços serenos
Sem ontem nem amanhã
Dormir nos braços morenos
Da lua de Itapuã
É bom!...
Passar uma tarde em Itapuã
Ao sol que arde em Itapuã
Ouvindo o mar de Itapuã
Falar de amor em Itapuã...

Trilha sonora do post - Tarde em Itapuã do Vinicius de Morais.