domingo, setembro 09, 2012

Sobre Camélias e um tanto de amor...o qual não cabe aqui.



Ontem decidi rever ao filme “ A Dama das Camélias” com a exuberante Greta Garbo , a película é uma adaptação do livro de Alexandre Dumas. Eu li o livro e confesso que a atuação de Greta Garbo como Marguerite Gautier supera a obra literária de Dumas (o cinema supera a literatura pela atuação dessa mulher, tão visceral...). Os gestos, a forma com que a boca de Greta se mexe, a forma que sorri e fala... E o seu olhar... ai o seu olhar valeria por toda a obra literária do mundo e o sofrimento tão a flor da pele.  Confesso queria ser uma cortesã como Marguerite tão integre, tão abusada e ao mesmo tempo tão justa e altruísta... Capaz de largar tudo por amor e por causa deste amor ( para seu bem) ser dura consigo para ver o amado feliz. Uma mulher sedutora que sabe do seu poder e se utiliza dele para viver... Porém não esconde em nenhum momento seu vazio existencial. Marguerite – Camille – é a mulher que eu queria ser sempre. Diuturnamente. 

Bem...Vamos a história: O filme conta a história de Margueritte Gautier uma mulher forte, aparentemente insensível, dissimulada- porque precisa disso para sobreviver-, pois a sua vida é vender a ilusão do amor para os homens-, corajosa que luta para sair de sua condição de desgraça- física e social-, a qual teria sido fadada a viver; mas ela trilha outros caminhos sem se importar com os meios: o de ser cortesã num covil parisiense regado a champagne, sarais, música, poesia e nada de amor. 
Margueritte cresceu no campo, pobre e numa das primeiras cenas do filme ela diz que sempre preferiu a companhia dos animais, mas que agora se rendeu ao luxo porque é vazia. Marguerite é extremamente sincera consigo e também adora Camélias – assim como eu adoro girassóis-.  



E neste contexto de festas/amantes/teatro  é que surge Armand Durval ( interpretado por Robert Taylor), um jovem apaixonado por Marguerite que a mostra o amor no seu sentido mais puro e intenso. A cortesã está doente... Provavelmente uma tuberculose (saca...essa doença fazia sentido quando  não se sabia dos micro-organismos, né? Porque sofrer de amor é perder o ar...os pulmões...é sangrar...). Bem...Armand anonimamente levava  camélias para a enferma diariamente. Gesto simbólico, né? Porque neste gesto há mais amor que qualquer declaração de “ eu te amo”. 


E daí surge à história de amor, talvez a mais singela, agressiva e dialética de todos os tempos. A história que tem como fundo as flores: a camélia ( assim como na minha história tem girassóis...). A luta por esse amor envolve vencer preconceitos e o desenrolar da vida já traçada. Para vivenciar o amor ambos precisam coragem demasiadamente numa Paris que ri do amor. Quando o casal parece ter vencido todas as adversidades o pai de Armand implora para Marguerite abandonar o rapaz porque ela desgraça a vida do moço. Ela se sensibiliza com o desespero do pai de Armand e por amor abandona Armand;  por acreditar que pela primeira vez na vida estaria fazendo o certo... Tanto sofrimento... Tantas dores que meus olhos estão inchados até agora....Na cena final Armand diz a amada que voltou a Paris porque a despreza e a ama....E assim...eles morrem um no outro, porque sem ela, ele não poderia ser e vice-versa. Ficaram as camélias...



Transcrevi alguns diálogos do filme que considerei visceral a mim mesma. 

Cena I
Marguerite sai da festa porque não se sente bem e Armand a segue.
Marguerite: O que aconteceu? Também parece doente.
Armand: É por vê-la sofrendo e doente.
Marguerite: Não é nada (e arruma as camélias no vaso)
Armand: Você está se matando?
Marguerite: Se estou...Você é o único que se importa...  ( sorri ironicamente) Agora por que não volta para a festa para dançar com as moças bonitas?
Armand: Porque quero cuidar de você. (E num gesto terno beija as mãos da moça, com um olhar de dor e cheio de lágrimas. Armand chora. )
Marguerite: Como você é criança...
Armand: Como você é linda. Suas mãos estão tão quentes.
Marguerite: É por isso que poe lágrimas nela? Para esfriá-las?
Armand: Porque quero cuidar de você. Eu cuidaria para sempre se você deixasse...
Marguerite ri e diz com olhar perdido:
Marguerite: O vinho deixou você alterado.
Armand: Não foi o vinho que me fez vir aqui todos os dias, quando você estava acamada para saber como você estava....
Marguerite: Não...Não poderia ser o vinho. Então...vc gostaria de cuidar de mim todos os dias?
Armand: Todos os dias...
Marguerite ri do moço e fala em tom agressivo.
Marguerite: Por que se preocupar com uma mulher como eu...Eu estou sempre demais...sempre nervosa demais, descontrolada demais, bêbada demais, triste demais, alegre demais...sempre demais.
Armand: É isso que amo em você. Eu quero você. Preocupo-me com você...
Marguerite: Sabe o que você deveria fazer... Esquecer-me e se casar... Vc é jovem, lindo e sensível..agora vamos voltar para a festa.
Armand se desespera e  a abraça.
Armand: Eu te amo ( diz visceralmente), como ninguém nunca vai te amar. Acredite. Meu amor é sincero.
Marguerite: Pode ser verdade...Mas o que vou fazer? Você deveria ir embora e nunca mais me procurar.
Armand a empurra com raiva. E ela se comove diz com olhos marejados – fingindo rir –
Marguerite: Não vá com raiva e rancor. Ora porque não ri um pouco de si mesmo como eu faço o tempo todo ( rindo de mim) e volte para me ver...
Armand: Isso não é o suficiente. Isso ofende um amor como o meu. E você...Você não acredita em amor, Marguerite!
Marguerite: Creio que não... creio que não sei o que é...
Armand sorri apaixonado e diz:
Armand: Obrigado.
Marguerite: Por quê?
Armand: Por nunca ter amado ninguém...Só haverá eu. E a beija loucamente.
Marguerite lhe dá uma camélia e diz.
Marguerite: Tome esta flor e volte quando ela morrer...(Armand esmaga a flor com fúria e diz)
Armand: Ela já morreu... Portanto não posso embora. E a beija docemente.
Cena II
Armand resolve partir após Marguerite não atendê-lo e sair com o barão.
Marguerite: Você escreveu uma carta tão  dura, seu malvado.
Armand: O que você esprava? Eu a vi na carruagem do barão.
Marguerite: Ficou com ciúmes?
Armand: sim...naturalmente.
Marguerite: Bem...então você faz bem em ir embora. Você sabe que sobrevivo assim...Estou endividada preciso do dinheiro do barão.
Armand: Ora...o que importa se parto ou fico...Eu sempre banco o tolo diante de ti...e você ri de mim desde então...
Marguerite: Eu finjo que rio. E não...a sua carta me deixou furiosa...Por que você se atreveu a escrever esta carta?
Armand: Sabe...Escrevi aquilo porque a amava...
Marguerite pula no colo de Armand como criança, o beija e diz:
Marguerite: Sabe...uma vez tive um cachorrinho e ele sempre ficava triste quando eu estava triste...isso me fazia amá-lo mais...Eu o amava tanto....E quando as suas lágrimas tocaram minhas mãos eu o amei...imensamente e perdidamente. Mas...mas existem coisas que você não compreenderia....
Armand: Marguerite...meu amor, agora é você que derrama lágrimas na minha mão...

Cena III
Depois que o pai de Armand implora para Marguerite deixar o filho
Armand: Marguerite ( gritando) ontem a noite você estava disposta a abandonar tudo por mim.
Marguerite: Bem... isso foi ontem à noite...Você sabe que as vezes as pessoas dizem coisas que não pretendem à noite...Armand a vida é algo mais além de beijos e promessas vazias...até você deveria saber... ( diz ela tentando ser frio, mas seu olhar é tão triste)
Armand engole seco e chora desesperado.
Armand: Um amor de verão era tudo o que você queria? Então vai me deixar?
Marguerite: Vou...
Armand: NÃO (grita desesperado e se joga contra a moça). Eu poderia matá-la agora por isto.
Marguerite: Eu não valho um assassinato...Eu amei o máximo que podia, não fazemos nosso coração, não é?
Armand: É Verdade... Você não tem culpa...e o seu coração só é capaz de ser fiel  por algumas semanas e o meu...o meu é fiel  para a vida toda.
Marguerite: É assim que são as coisas...
Armand: É como se um de nós estive morrendo...
Marguerite friamente diz.
Marguerite: Estou indo o barão está me esperando e eu quero viver num castelo.
Armand a deixa ir e fica a olhando pela janela. Marguerite chora e morre um pouco na partida. Mas Armand não sabe das lágrimas da moça...

TRILHA SONORA DE MIM...DEPOIS DO FILME 

Um comentário:

Anônimo disse...

Daninha,

Que lindo e triste. Quem disse que para ser lindo precisa ser alegre, né?
Eu adoro esse filme, girassol!
Eu amo vc!