Olhava por entre os arames do alambrado, como se procurasse ouro, diamante ou qualquer pedra preciosa perdida na possibilidade de encontro. Tentava achar algum olhar perdido que revelasse melancolia, uma tristeza de um amor perdido, de uma canção não composta, ou de resignação. Não achava.
Passeou pelo campo de futebol, admirou a grama, tocou-a. Era quase crepúsculo, o relógio apontava 18h. E as horas na espera sempre são implacáveis, dolorosas porque não há possibilidade de vencer Kronos, é como jogar xadrez com a morte ( parafraseando Bergman).
Continuava a andar pelo campo... Antes do show. Haveria apresentação de uma banda chamada “ The Killers” , engraçado que até o nome da banda combinava com a sina do seu coração. Talvez até mais um pouco, além...lá onde o infinito termina em uma só dimensão...
Passava as mãos pelo alambrado tentando se machucar, sentia o arame duro, gasto e cheio de ferrugem como a vida que levara antes dele. Olhava pelos buracos do arame para tentar encontrá-lo porque depois daquela noite, quando o vira tocar piano pela primeira vez, algo se transfigurou dentro dela. Ele era sua antítese e sua síntese... Eram cronicamente anacrônicos e complementares.
O problema é que a noite caia com força e violência; o show estava para começar e ela não encontrava o olhar daquele homem que atormentava seu coração. O alambrado a separava do mundo...ela olhava...olhava e não encontrava nada. Pessoas chegavam para o show...ela foi para frente do palco e cantou, dançou, amou e chorou: “And I can't do a love song, like the way it's meant to be…I can't do everything, but I'd do anything for you…I can't do anything except be in love with you”
Terminado o show, rasgou o alambrado e partiu para casa com as mãos machucadas, coração partido e os olhos gastos de tanto olhar e nad encontrar... E a vida continuou igual...e mesmo assim houve outra música possível nos descompassos do seu coração. E por isso caminhou em frente, sem olhar para trás...Continuou a cantar “ The Killers”...
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