Estou terminando de ler um livro
de cartas entre Van Gogh e seu irmão Theo. E cada vez tenho mais certeza que o
que me aproxima de Vicent é nossa
marginalidade. Nossa incapacidade de se enquadrar no contexto social, portanto
viver à margem é inevitável, né mesmo?
Eu não sou corajosa com Van Gogh.
Porque para ter largado tudo para tentar a vida como artista é preciso ter
coragem. Às vezes me acho covarde, mesmo estando à margem... Enfim...mas ai é
outra história.
Em uma das cartas que Van Gogh
envia para o irmão Theo ele fala da sua condição de miséria social e que queria
que o irmão visse nele mais que um vagabundo... Porque o senso comum já o
condenara a ser vagabundo ad eternum. A carta é de uma sensibilidade lancinante,
na qual implora para o irmão enxergá-lo como ele é e não como um vagabundo da
pior espécie. Mas Theo não o encarava assim. Theo era o maior incentivador de
Vicent. Theo nunca o julgou, só o amou e viu o que só perceberam da sua morte:
a genialidade do artista. (Repito Theo
várias vezes pela sua humanidade em excesso).
Vou retratar uma comparação de
Vicent para Theo na carta que achei pertinente e comovente:
Um pássaro na gaiola durante a primavera sabe
muito bem que existe algo em que ele pode ser bom, sente muito bem que há algo
a fazer, mas não pode fazê-lo. O que será? Ele não se lembra bem. Tem então
vagas lembranças e diz para si mesmo: “Os outros fazem seus ninhos, têm seus
filhotes e criam a ninhada”, e então bate com a cabeça nas grades da gaiola. E
a gaiola continua ali, e o passaro fica louco de dor. “Vejam que VAGABUNDO”,
diz um outro pássaro que passa, “ esse ai é um tipo de aposentado”. No entanto,
o prisioeneiro vive, e não morre, nada exteriormente revela o que se passa em
seu intimo, ele está bem, está mais ou menos feliz sob os raios de sol. Mas vem
a epoc da migração. Acesso de melancolia – “ mas “ dizem as crianças que o
criam na gaiola, “ AFINAL ELE TEM TUDO QUE PRECISA”.E ele olha lá fora o céu
cheio, carregado de tempestade, e sente em si a revolta contra a fatalidade. “
ESTOU PRESO, ESTOU PRESO E NÃO ME FALTA NADA, IMBECIS. TENHO TUDO QUE PRECISO.
AH1 POR BONDADE, LIBERDADE! SER UM PÁSSARO COMO OS OUTROS”...Carta
133 – pág 50/51 – Cartas a Theo/ Vicent Van Gogh ( a carta foi escrita em julho
de 1880, de Borinage na Belgica) coments: Van Gogh ai conheceu os mineiros
explorados e desenvolveu relação de amizade com os mineiros e iniciou várias
obras de denuncia social) .
A limitação de condenar outro a
um rótulo é perversa/castradora. Mais que isso...essa limitação é uma prisão
que se chama preconceito com o fora do padrão. Se não seguir padrões já é
culpado. De que? Não sei...Talvez pela capacidade de questionar...Vicent
abandonou uma vida razoável para tentar ser artista, viveu na miséria e muitas
vezes só tinha pão e cerveja p comer/beber porque Theo o ajudava
financeiramente. Theo o ajudava porque o amava e acima de tudo sabia da
genialidade do irmão e a queria reconhecida. Portanto, Theo sofria...talvez até
mais que Vicent.
Van Gogh não era um vagabundo era
um homem a frente do seu tempo, atormentado por tanto conhecimento e
sensibilidade, um gênio maldito, um incompreendido e um artista. O fato de não se enquadrar na sociedade não
deveria fadá-lo à marginalidade. Às vezes penso que isso acontece por
ódio/inveja, porque uma pessoa assim... Como Vicent...não tem medo de nada e
pouco a perder. Portanto é livre de fato. Isso causa inveja... e descontrole social,
pois nossa prisão social – apesar de
imposta – é consentida.
Geralmente o que nos encerra é o
que nos cerca. Outro dia um amigo artista me disse que andava cansado da pergunta das pessoas sobre sua profissão,
pois quando ele dizia que era músico elas reforçavam, “não... tô perguntando da
sua profissão. O q vc faz para viver.” É a prisão social de todos, os quais não
sentem as grades/muros mas eles estão ai...Por isso, viva os vagabundos e a
liverdade! =) E não a imbecilidade!
Coments: Não posso morrer sem
conhecer o Museu de Orsay e o Museu de Van Gogh em Amsterdam.
TRILHA SONORA DO DIA: “ Salve o
amor, salve a amizade, a malandragem e a capoeira...”
Um comentário:
Que belo post. Que bela blogueira.
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