quarta-feira, novembro 30, 2011

Sobre marginais e vagabundos...


Estou terminando de ler um livro de cartas entre Van Gogh e seu irmão Theo. E cada vez tenho mais certeza que o que me aproxima de Vicent  é nossa marginalidade. Nossa incapacidade de se enquadrar no contexto social, portanto viver à margem é inevitável, né mesmo? 


Eu não sou corajosa com Van Gogh. Porque para ter largado tudo para tentar a vida como artista é preciso ter coragem. Às vezes me acho covarde, mesmo estando à margem... Enfim...mas ai é outra história. 

Em uma das cartas que Van Gogh envia para o irmão Theo ele fala da sua condição de miséria social e que queria que o irmão visse nele mais que um vagabundo... Porque o senso comum já o condenara a ser vagabundo ad eternum. A carta é de uma sensibilidade lancinante, na qual implora para o irmão enxergá-lo como ele é e não como um vagabundo da pior espécie. Mas Theo não o encarava assim. Theo era o maior incentivador de Vicent. Theo nunca o julgou, só o amou e viu o que só perceberam da sua morte: a genialidade do artista. (Repito Theo várias vezes pela sua humanidade em excesso).


Vou retratar uma comparação de Vicent para Theo na carta que achei pertinente e comovente:


Um pássaro na gaiola durante a primavera sabe muito bem que existe algo em que ele pode ser bom, sente muito bem que há algo a fazer, mas não pode fazê-lo. O que será? Ele não se lembra bem. Tem então vagas lembranças e diz para si mesmo: “Os outros fazem seus ninhos, têm seus filhotes e criam a ninhada”, e então bate com a cabeça nas grades da gaiola. E a gaiola continua ali, e o passaro fica louco de dor. “Vejam que VAGABUNDO”, diz um outro pássaro que passa, “ esse ai é um tipo de aposentado”. No entanto, o prisioeneiro vive, e não morre, nada exteriormente revela o que se passa em seu intimo, ele está bem, está mais ou menos feliz sob os raios de sol. Mas vem a epoc da migração. Acesso de melancolia – “ mas “ dizem as crianças que o criam na gaiola, “ AFINAL ELE TEM TUDO QUE PRECISA”.E ele olha lá fora o céu cheio, carregado de tempestade, e sente em si a revolta contra a fatalidade. “ ESTOU PRESO, ESTOU PRESO E NÃO ME FALTA NADA, IMBECIS. TENHO TUDO QUE PRECISO. AH1 POR BONDADE, LIBERDADE! SER UM PÁSSARO COMO OS OUTROS”...Carta 133 – pág 50/51 – Cartas a Theo/ Vicent Van Gogh ( a carta foi escrita em julho de 1880, de Borinage na Belgica) coments: Van Gogh ai conheceu os mineiros explorados e desenvolveu relação de amizade com os mineiros e iniciou várias obras de denuncia social) . 



A limitação de condenar outro a um rótulo é perversa/castradora. Mais que isso...essa limitação é uma prisão que se chama preconceito com o fora do padrão. Se não seguir padrões já é culpado. De que? Não sei...Talvez pela capacidade de questionar...Vicent abandonou uma vida razoável para tentar ser artista, viveu na miséria e muitas vezes só tinha pão e cerveja p comer/beber porque Theo o ajudava financeiramente. Theo o ajudava porque o amava e acima de tudo sabia da genialidade do irmão e a queria reconhecida. Portanto, Theo sofria...talvez até mais que Vicent. 

Van Gogh não era um vagabundo era um homem a frente do seu tempo, atormentado por tanto conhecimento e sensibilidade, um gênio maldito, um incompreendido e um artista.  O fato de não se enquadrar na sociedade não deveria fadá-lo à marginalidade. Às vezes penso que isso acontece por ódio/inveja, porque uma pessoa assim... Como Vicent...não tem medo de nada e pouco a perder. Portanto é livre de fato. Isso causa inveja... e descontrole social, pois  nossa prisão social – apesar de imposta – é  consentida.

Geralmente o que nos encerra é o que nos cerca. Outro dia um amigo artista me disse que andava cansado  da pergunta das pessoas sobre sua profissão, pois quando ele dizia que era músico elas reforçavam, “não... tô perguntando da sua profissão. O q vc faz para viver.” É a prisão social de todos, os quais não sentem as grades/muros mas eles estão ai...Por isso, viva os vagabundos e a liverdade! =) E não a imbecilidade!

Coments: Não posso morrer sem conhecer o Museu de Orsay e o Museu de Van Gogh em Amsterdam.


TRILHA SONORA DO DIA: “ Salve o amor, salve a amizade, a malandragem e a capoeira...” 



Um comentário:

Anônimo disse...

Que belo post. Que bela blogueira.