sexta-feira, maio 20, 2011

Menos preconceito linguístico e mais felicidade na diversidade de ser o que se é.

Eu tava cunversanooo, hoje de manhã, com uma pessoa na rua sobre amenidades da vida e me deliciando em silêncio – as melhores felicidades são as clandestinas - com a forma de a pessoa falar. Porque a variação da línguística é algo que me encanta/fascina e empolga. Toda vez que converso com as pessoas, descubro um pouquinho de mim nelas, na sua forma de se expressar, agir e sentir. O falar caipira sempre esteve presente na minha infância. Sou neta de sitiantes, minha mãe era do sitio e meus avós paternos eram pessoas bem simples – no quesito capitalista-, porque para mim eles eram as pessoas mais ricas que conhecia e as que mais me ensinaram na vida.

A pessoa que eu conversava tinha uma marca forte na redução do ditongo, o qual quase tod@s @s falantes da língua possuem, mas não se dão conta disso. E desde manhazinha tô com a redução do ditongo “ ei” na cabeça, porque eu acordei pensando no bêjo que não roubei dele e com o coração na boca de tanto arrependimento. “O bêjo que eu dexei para lá é cheio da esperança do TEU cheiro e do sabor de desfrutar TEU corpo com quejo e vinho.” A língua me entrega para ele. A língua me revela para a vida.

Na língua falada deixa de existir o ditongo “ei” e ele se transforma na vogal “e” com som fechado. Principalmente, diante das consoantes L, X e R. Comodidade fonética. Só pra entender esse processo se chama assimilação- é quando dois sons são parecidos e a fala faz tudo para que eles se tornem um só. Tão vendo como a língua em sua dialética é parecida com nossos desejos do coração. Quando as pessoas perceberem isso, não haverá uma pessoa no mundo que não será apaixonada pela língua.

Lembrando que foneticamente as vogais são produzidas com a passagem livre de ar pela boca, já as consoantes encontram resistência. Quando eu estava me alfabetizando percebia essa diferença claramente... Eu adorava aquele exercícios de a-e-i-o-u ( a leitura e a escrita), já as consonantes eram difíceis de se pronunciar: por exemplo, a letra C ---tem som de CE. Sempre era necessário uma vogal para ela existir ou ter sentido. Assim como meu corpo é dependente dele – posso existir sim, mas não há sentido-. Por isso digo que sou consoante da TUA existência.

Atire a primeira pedra quem nunca teve dúvidas para escrever os vocábulos: caranguejo, prazeroso entre tantos outros; pois na fala pronunciamos o “i”. Eu mesma sempre tenho dúvidas, contudo para mim isso não é vergonha e admito com prazer, porque percebo na dúvida o conhecimento e uma maneira de alçar outros vôos. Portanto julgar a fala ou mesmo a escrita com o conceito reducionista de erro é no mínimo ignorância e desconhecimento da língua e de si mesmo. Falar do jeito que se escreve não significa falar mais certo. Claro que o professor deve ensinar à ortografia padrão; a forma polida da escrita, contudo não julgar certo e errado as variedades lingüísticas do idioma (não desprezar o outro). O aluno pode falar “bonito” ou “bunito”, e compreender que graficamente só há o “bonito”, porque na língua escrita há regras e ela precisa de uma uniformidade para ser compreendida, mas limitar a fala a escrita é uma burrice sem tamanhos, pois a língua é viva e como qualquer ser que possui vida, modifica-se com o tempo, contexto sócio-cultural e até humor.

Não podemos o esquecer que a língua escrita de qualquer idioma do mundo é de caráter simbólico e que para a compreendermos necessitamos entender o mesmo símbolo (assim como ícones desenhados de proibido fumar, acessibilidade, etc). Porém mesmo na escrita há transformações lingüísticas, e possibilidades de interpretações diferentes. Dá para compreender porque reduzir a língua a regras ou ao erro é tosco? Num texto literário ou poema podemos ter diversas compreensões dependendo do nosso conhecimento e bagagem de mundo (e até do momento emocional que estamos vivendo).

O que devemos entender é que não há correção no que é espontâneo, natural e delicioso na fala, pois a linguagem somos nós. O professor/educador/pais devem corrigir o que é ambíguo e inadequado na fala ou na escrita, de uma forma que a pessoa perceba essa confusão e compreenda o funcionamento da língua em sua totalidade, e principalmente, deve-se valorizar contexto social e cultural de cada um. É maravilho compreender fenômenos lingüísticos pela fala. E como descobrir toda a história da humanidade e perceber essas mudanças e m nós mesmos.

Um comentário:

Isabel Lautenschlager Santana disse...

Daniela, gostei muito do seu blog
muito bom.
Deixo o blog Belas Artes Médicas.
Um grande abraço.