Preâmbulo narrativo:
O cenário é o contexto político-partidário atual, no borbulhar pré-eleitoral. Numa cidade do interior do Brasil (poderia ser qualquer uma, como efetivamente acontece por aí), um prefeito recebe uma equipe de educadores.
Estes educadores apresentam um projeto de educação e inclusão social, voltado para o trabalhador e sua família, buscando oferecer complementação e reconhecimento de seus saberes tradicionais, pelo conhecimento formal da academia, invertendo a ordem lógica e perversa do saber acadêmico, que segrega e discrimina, e que foi responsável pelo fracasso de projetos anteriores.
Todo o projeto é custeado pelo governo federal. À prefeitura, apenas o trabalho de fornecer mão-de-obra qualificada – no caso, professores da rede pública de ensino fundamental – que prestariam o serviço público que normalmente ocorre nas escolas municipais, num outro ambiente, o das comunidades tradicionais. Nenhum aporte de profissionais era requerido. Apenas o rearranjo de horas-aula de profissionais que desejassem participar de um projeto educativo diverso do que normalmente atua. Estes professores ainda seriam capacitados na metodologia pedagógica alternativa, construída a partir do trabalho de Paulo Freire.
A primeira pergunta do emissário do prefeito – que não quis receber a equipe de educadores – foi: “quanto custará aos nossos cofres?”.
Devidamente orientado quanto a natureza do projeto, e da ausência da necessidade de novos investimentos do município, inclusive no tocante à logística do processo, totalmente custeada pelo governo federal, que investe no projeto, em nível nacional, cifras milionárias, o emissário do prefeito vai novamente ao gabinete. Retorna de lá poucos minutos depois, e diz que na rede pública de ensino daquele município não existem professores com horas vagas: a proporção é calculada de forma exata, possivelmente para evitar gastos desnecessários. Portanto, haveria ônus para o município. De onde, então, tirar o dinheiro para contratar os profissionais que atuariam no projeto federal, em parceria com o município?
Mais uma vez, os educadores reiteraram que o investimento do município, se houvesse, seria mínimo, menos de 10% do total, já que os outros 90%, incluindo a estrutura física e logística – novamente! – serão totalmente custeados pelo governo federal, com recursos já previstos no orçamento do projeto.
Ainda assim, o prefeito relutava em assinar o convênio, sem ter antes a resposta à pergunta: “quanto, efetivamente, custará aos nossos cofres?”.
“Há o FUNDEB!”, lembrou um dos educadores. “Com o aumento do número de alunos no ensino fundamental, virá certamente o aumento do valor repassado ao município, via FUNDEB”. O emissário prefeitural acenou que era uma possibilidade, mas que não resolvia o problema a curto prazo, pois haveria a necessidade de primeiro contratar os professores, pagá-los, para depois receber o aumento do repasse. Mas que colocaria a sugestão para o prefeito.
Mais uma vez, entrou no gabinete. Tensão no ar. Parece que o prefeito não iria assinar o convênio. Por fim, o emissário aparece, com o projeto devidamente assinado. O prefeito aparentemente “foi convencido” de que os benefícios sociais e educacionais para o município era lucro suficiente para justificar o investimento municipal no projeto.
Análise Psico-Marxista:
Poli (enunciando a interlocução necessária ao diálogo, filosoficamente): Descontando-se o fato de o prefeito ser do partido da alcunhada oposição – alcunhada porque não tem thesis, e portanto não tem posição – o que levou ele, enquanto prefeito, e portanto, representante eleito para materializar as aspirações sociais enquanto Bem Comum, a relutar em assinar um convênio que tem a possibilidade de trazer desenvolvimento social para a cidade que ele gere?
Karl Marx: “Para o capitalista, a aplicação mais útil do capital é aquela que lhe rende, com igual segurança, o maior ganho. Esta aplicação não é sempre a mais útil para a sociedade”.
Poli: Então, o episódio é uma clara ilustração de um governo de direita, que gesta a partir da lógica do capital. A que coloca a exploração da força e da produtividade do trabalho humano no centro da roda que gira o mundo (deles). Mas será que essa direita é tão canhestra, tão corrompida (corrupta), que é incapaz de enxergar o mundo para além da força coerciva do dinheiro?
Karl Marx: “O dinheiro é o alcoviteiro entre a necessidade e o objeto, entre a vida e o meio de vida do homem. Mas o que medeia a minha vida para mim, medeia-me também a existência de outro homem para mim. Isto para mim é o outro homem…”
Poli: Porrada seca! O que Cristo falou, de outro modo: “Amarás ao próximo como a ti mesmo”. E ainda tem gente que não percebeu que tu, ao contrário do o Papa e de todos os pastores, entendeu o que Cristo queria dizer. Mas o problema não é o dinheiro em si. Bem usado, ele é até útil. A partir de quando ele se transforma em veículo da patologia social, que acometeu o prefeito de nossa história, e acomete a direita brasileira?
Karl Marx: “O que é para mim pelo dinheiro, o que eu posso pagar, isto é, o que o dinheiro pode comprar, isso sou eu, o possuidor do próprio dinheiro. Tão grande quanto a força do dinheiro é a minha força. As qualidades do dinheiro são minhas – seu possuidor – qualidades e forças essenciais. O que eu sou e consigo não é determinado de modo algum, portanto, pela minha individualidade.
Se o dinheiro é o vínculo que me liga à vida humana, que liga à sociedade a mim, que me liga à natureza e ao homem, não é o dinheiro o vínculo que me liga a todos os vínculos?
O que eu como homem não consigo, o que, portanto, todas as minhas forças essenciais individuais não conseguem, consigo-o eu por intermédio do dinheiro. O dinheiro faz assim de cada uma dessas forças essenciais algo que em si ela não é, ou seja, o seu contrário.”
Poli: Sacamos! A patologia pinta na relação. Quando o dinheiro é colocado como substituto para as relações, para as produções. Quando isso acontece, qual o destino do indivíduo, e no nosso caso específico, de uma cidade gerida por uma consciência padecida desta patologia social? É possível um prefeito (ou candidato à presidente, ou deputado, ou senador, ou…) capturado por esta patologia social, fazer um governo efetivo e real?
Karl Marx: “Pressupondo o homem enquanto homem e seu comportamento com o mundo enquanto um comportamento humano, tu só podes trocar amor por amor, confiança por confiança, etc. Se tu quiseres fruir da arte, tens de ser uma pessoa artisticamente cultivada; se queres exercer influência sobre outros seres humanos, tu tens de ser um ser humano que atue efetivamente sobre os outros de modo estimulante e encorajador. Cada uma das tuas relações com o homem e com a natureza – tem de ser uma externação (Âusserung) determinada da tua vida individual efetiva correspondente ao objeto da tua vontade. Se tu amas sem despertar amor recíproco, isto é, se teu amar, enquanto amar, não produz o amor recíproco, se mediante tua externação de vida (Lebensâusserung) como homem amante não te tornas homem amado, então teu amor é impotente, é uma infelicidade”.
Nota do Poli: as respostas foram fisgadas da obra “Manuscritos Econômico-Filosóficos”.
FONTE: POLIVOCIDADE
O cenário é o contexto político-partidário atual, no borbulhar pré-eleitoral. Numa cidade do interior do Brasil (poderia ser qualquer uma, como efetivamente acontece por aí), um prefeito recebe uma equipe de educadores.
Estes educadores apresentam um projeto de educação e inclusão social, voltado para o trabalhador e sua família, buscando oferecer complementação e reconhecimento de seus saberes tradicionais, pelo conhecimento formal da academia, invertendo a ordem lógica e perversa do saber acadêmico, que segrega e discrimina, e que foi responsável pelo fracasso de projetos anteriores.
Todo o projeto é custeado pelo governo federal. À prefeitura, apenas o trabalho de fornecer mão-de-obra qualificada – no caso, professores da rede pública de ensino fundamental – que prestariam o serviço público que normalmente ocorre nas escolas municipais, num outro ambiente, o das comunidades tradicionais. Nenhum aporte de profissionais era requerido. Apenas o rearranjo de horas-aula de profissionais que desejassem participar de um projeto educativo diverso do que normalmente atua. Estes professores ainda seriam capacitados na metodologia pedagógica alternativa, construída a partir do trabalho de Paulo Freire.
A primeira pergunta do emissário do prefeito – que não quis receber a equipe de educadores – foi: “quanto custará aos nossos cofres?”.
Devidamente orientado quanto a natureza do projeto, e da ausência da necessidade de novos investimentos do município, inclusive no tocante à logística do processo, totalmente custeada pelo governo federal, que investe no projeto, em nível nacional, cifras milionárias, o emissário do prefeito vai novamente ao gabinete. Retorna de lá poucos minutos depois, e diz que na rede pública de ensino daquele município não existem professores com horas vagas: a proporção é calculada de forma exata, possivelmente para evitar gastos desnecessários. Portanto, haveria ônus para o município. De onde, então, tirar o dinheiro para contratar os profissionais que atuariam no projeto federal, em parceria com o município?
Mais uma vez, os educadores reiteraram que o investimento do município, se houvesse, seria mínimo, menos de 10% do total, já que os outros 90%, incluindo a estrutura física e logística – novamente! – serão totalmente custeados pelo governo federal, com recursos já previstos no orçamento do projeto.
Ainda assim, o prefeito relutava em assinar o convênio, sem ter antes a resposta à pergunta: “quanto, efetivamente, custará aos nossos cofres?”.
“Há o FUNDEB!”, lembrou um dos educadores. “Com o aumento do número de alunos no ensino fundamental, virá certamente o aumento do valor repassado ao município, via FUNDEB”. O emissário prefeitural acenou que era uma possibilidade, mas que não resolvia o problema a curto prazo, pois haveria a necessidade de primeiro contratar os professores, pagá-los, para depois receber o aumento do repasse. Mas que colocaria a sugestão para o prefeito.
Mais uma vez, entrou no gabinete. Tensão no ar. Parece que o prefeito não iria assinar o convênio. Por fim, o emissário aparece, com o projeto devidamente assinado. O prefeito aparentemente “foi convencido” de que os benefícios sociais e educacionais para o município era lucro suficiente para justificar o investimento municipal no projeto.
Análise Psico-Marxista:
Poli (enunciando a interlocução necessária ao diálogo, filosoficamente): Descontando-se o fato de o prefeito ser do partido da alcunhada oposição – alcunhada porque não tem thesis, e portanto não tem posição – o que levou ele, enquanto prefeito, e portanto, representante eleito para materializar as aspirações sociais enquanto Bem Comum, a relutar em assinar um convênio que tem a possibilidade de trazer desenvolvimento social para a cidade que ele gere?
Karl Marx: “Para o capitalista, a aplicação mais útil do capital é aquela que lhe rende, com igual segurança, o maior ganho. Esta aplicação não é sempre a mais útil para a sociedade”.
Poli: Então, o episódio é uma clara ilustração de um governo de direita, que gesta a partir da lógica do capital. A que coloca a exploração da força e da produtividade do trabalho humano no centro da roda que gira o mundo (deles). Mas será que essa direita é tão canhestra, tão corrompida (corrupta), que é incapaz de enxergar o mundo para além da força coerciva do dinheiro?
Karl Marx: “O dinheiro é o alcoviteiro entre a necessidade e o objeto, entre a vida e o meio de vida do homem. Mas o que medeia a minha vida para mim, medeia-me também a existência de outro homem para mim. Isto para mim é o outro homem…”
Poli: Porrada seca! O que Cristo falou, de outro modo: “Amarás ao próximo como a ti mesmo”. E ainda tem gente que não percebeu que tu, ao contrário do o Papa e de todos os pastores, entendeu o que Cristo queria dizer. Mas o problema não é o dinheiro em si. Bem usado, ele é até útil. A partir de quando ele se transforma em veículo da patologia social, que acometeu o prefeito de nossa história, e acomete a direita brasileira?
Karl Marx: “O que é para mim pelo dinheiro, o que eu posso pagar, isto é, o que o dinheiro pode comprar, isso sou eu, o possuidor do próprio dinheiro. Tão grande quanto a força do dinheiro é a minha força. As qualidades do dinheiro são minhas – seu possuidor – qualidades e forças essenciais. O que eu sou e consigo não é determinado de modo algum, portanto, pela minha individualidade.
Se o dinheiro é o vínculo que me liga à vida humana, que liga à sociedade a mim, que me liga à natureza e ao homem, não é o dinheiro o vínculo que me liga a todos os vínculos?
O que eu como homem não consigo, o que, portanto, todas as minhas forças essenciais individuais não conseguem, consigo-o eu por intermédio do dinheiro. O dinheiro faz assim de cada uma dessas forças essenciais algo que em si ela não é, ou seja, o seu contrário.”
Poli: Sacamos! A patologia pinta na relação. Quando o dinheiro é colocado como substituto para as relações, para as produções. Quando isso acontece, qual o destino do indivíduo, e no nosso caso específico, de uma cidade gerida por uma consciência padecida desta patologia social? É possível um prefeito (ou candidato à presidente, ou deputado, ou senador, ou…) capturado por esta patologia social, fazer um governo efetivo e real?
Karl Marx: “Pressupondo o homem enquanto homem e seu comportamento com o mundo enquanto um comportamento humano, tu só podes trocar amor por amor, confiança por confiança, etc. Se tu quiseres fruir da arte, tens de ser uma pessoa artisticamente cultivada; se queres exercer influência sobre outros seres humanos, tu tens de ser um ser humano que atue efetivamente sobre os outros de modo estimulante e encorajador. Cada uma das tuas relações com o homem e com a natureza – tem de ser uma externação (Âusserung) determinada da tua vida individual efetiva correspondente ao objeto da tua vontade. Se tu amas sem despertar amor recíproco, isto é, se teu amar, enquanto amar, não produz o amor recíproco, se mediante tua externação de vida (Lebensâusserung) como homem amante não te tornas homem amado, então teu amor é impotente, é uma infelicidade”.
Nota do Poli: as respostas foram fisgadas da obra “Manuscritos Econômico-Filosóficos”.
FONTE: POLIVOCIDADE
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