Eu havia comentado com o Will semana passada que iria escrever sobre o tema preconceito linguístico neste espaço, devido a uma cena no banheiro da academia( qual treino) e que me chocou muito. Primeiro pela violência e segundo pela disseminação de vários preconceitos: linguístico, social, sexual, etc. Percebi observando a cena o quanto a deseducação dos pais contribuem para a formação de um individuo neurótico. Enfim...Vamos ao relato.
Havia acabado de nadar e como de costume fui tomar banho para depois ir ao trabalho. No banheiro também estava uma mãe com seu filhinho( q deveria ter uns 6 anos), ela estava trocando o menino para ele nadar. O menino muito falante, curioso, empolgado assim como todo criança deve ser, sempre encurralando a mãe com suas perguntas capciosas. E eu adorando, por ver como uma criança é cheia de ideias, imaginação e acredito q se não fosse a maioria dos pais todas seriam bons cientistas. A investigação é nata nas crianças, pena q são tolhidas pelos pais, talvez por preguiça de buscar informação ou de participar do imaginário infantil. A criança saltitante e com um sorriso no rosto indagou a mãe( vou tentar reproduzir o diálogo):
- Mãe, quando acabar a aula a gente vamos na feira?
A mãe horrorizada. Beliscou a criança e disse:
-Já te disse para não falar assim. A gente vamos não existe. Isso é coisa de gentinha.
O garotinho começou a chorar e para piorar a cena ela acrescentou:
- Pare de chorar. Isso é coisa de menina.
A cena me chocou pela violência e pela deseducação que ela proporcionou ao menino. Tive vontade de pegar o menino e consola-lo. Mas, fiquei quieta, passiva diante de tamanha castração. Isso me envergonha muito, por isso resolvi relatar no blog.
Perceberam como a cena é pesada? Primeiro o preconceito linguístico intrínseco nela A mãe enfatizando que não existe a expressão "a gente vamos". Mas, como não? Isso é falado diariamente e é perfeitamente aceitável, sendo uma manifestação positiva da capacidade cognitiva da criança em querer harmonizar o plural, pois a criança entende que "a gente "é mais que um...Para que retalhar esse entendimento? Essa compreensão traria muito mais frutos à criança. A mãe do garoto desconhece que isso na língua pode ser considerado uma silepse de número. O que há de mais culto na língua, contudo isso não é conhecido por pessoas mediocres ou pseudos, pois utilizar essa figura de linguagem é para poucos: Machado de Assis, Camões, Guimarães Rosa, Mário Barreto. Tá bom para vocês? Todavia, essa mãe dilacera o aprendizado do filho pela simples cultura do erro( do q ela e a maioria das pessoas considera certo e errado). Que pena. Lamentável. Pode-se ter morrido ai um grande escritor. Sofro tanto com isso...
Depois, logicamente, ligado ao preconceito linguístico o social, porque falar errado para a maioria das pessoas é coisa de gente analfabeta e pobre. Que horror! Só de relembrar o fato fico toda arrepiada. Essa mãe com algumas palavras embutiu conceitos no filho que nem anos de boa terapia o libertará. E para finalizar citou o choro como atitude de mulherzinha. Olha a violência!!! A criança perceberá sentimentos com algo ruim e que exteriorizá-los pelas lágrimas não é bom, pois é uma situação humilhante, segundo a mulher. Pirei total, pois não há nada mais humano que sentimentos...E as lágrimas são um processo natural do corpo em momentos de tristeza e emoção. A mãe colocou as lágrimas como fator descaracterizador do menino do gênero masculino e o remeteu a ideia de gênero feminino. Confuso? Imagina para uma criança de seis anos. E toda a cena alegoricamente regada por um beliscão. A violência!
Talvez, por isso eu tenha medo de ter filhos. Enfim...Fica o desabafo e a indignação. E claro uma grande reflexão da forma que os pais educam seus filhos.
Comentário linguístico sobre o preconceito e diferenças da escrita e da fala:
A linguagem falada e escrita diferem-se muito entre si, afinal não se fala como escreve, portanto o educador( seja professor/pais) deve mostrar essa diferença para a criança, para que assim a cultura do certo e errado vá desaparecendo, dando lugar a um aprendizado da língua portuguesa que busca suas origens e respeita suas diferenças. O educador deve incentivar o aluno a se interessar pela história da nossa língua para que assim, ele vislumbre que nossa história se cruza com a de nossa língua.
O educador deve reconhecer os fenômenos lingüísticos que ocorrem na vida, levar em conta toda variedade: social, cultural, econômica, intelectual, cognitiva e principalmente, a história de nossa língua e todas suas variações ortográficas e lingüísticas, para assim ampliar o conhecimento e o aprendizado do aluno, possibilitando as construções de relações sociais permeadas pela linguagem cada vez mais democrática e não discriminatória. Ou seja, precisamos nos distanciar desse modelo do que é correto e errado, e nos aproximar do português brasileiro com suas origens africanas, indígenas, entre outros, pois negar nossas origens e negar a nos mesmos. Para escrever bem precisamos, antes de tudo, nos conhecer e vivenciar nossa língua e sua história. Por isso, o educador deve estar atento a essas diversidades, conhecer e valorizar nossas raízes, demonstrando que toda a transformação da língua decorre de variações e aperfeiçoamentos durante o decorrer de sua história, principalmente, não esquecendo que o homem é um ser social: isolado é uma abstração.
O educador deve reconhecer os fenômenos lingüísticos que ocorrem na vida, levar em conta toda variedade: social, cultural, econômica, intelectual, cognitiva e principalmente, a história de nossa língua e todas suas variações ortográficas e lingüísticas, para assim ampliar o conhecimento e o aprendizado do aluno, possibilitando as construções de relações sociais permeadas pela linguagem cada vez mais democrática e não discriminatória. Ou seja, precisamos nos distanciar desse modelo do que é correto e errado, e nos aproximar do português brasileiro com suas origens africanas, indígenas, entre outros, pois negar nossas origens e negar a nos mesmos. Para escrever bem precisamos, antes de tudo, nos conhecer e vivenciar nossa língua e sua história. Por isso, o educador deve estar atento a essas diversidades, conhecer e valorizar nossas raízes, demonstrando que toda a transformação da língua decorre de variações e aperfeiçoamentos durante o decorrer de sua história, principalmente, não esquecendo que o homem é um ser social: isolado é uma abstração.
Na verdade, todas as nossas ações diárias estão revestidas de linguagem. Ela é fundamental no desenvolvimento do homem, sendo a condição necessária para a concepção de conceitos, idéias, filosofias, ideologias e valores: tudo o que possibilita as pessoas compreenderem o mundo e sua interação com ele. Isto é, a possibilidade de interação social entre as pessoas, por isso é tão importante saber respeitar as diferenças e não pré-julgar o outro. Por fim, o desafio do educador está em criar alternativas para lidar com diferentes realidades sociais, diferentes eixos de construção cognitiva, diferentes tempos de aprendizagem, diferentes momentos conceituais e diferentes expectativas, experiências e saberes constituídos. Por isso, é legítimo aprender a ler e a escrever se essa aprendizagem estiver associada ao processo de libertação da palavra para a expressão/compreensão da idéia, como defendia Paulo Freire (1998). Daí a sua máxima ainda hoje tão revolucionária: “a leitura do mundo precede a leitura das palavras”.
NOTA: EDUCADOR - ENTENDE-SE PAIS, PROFESSORES OU QUALQUER PESSOA QUE EDUCA.
TRILHA SONORA DO DIA - Chico Buarque - Apesar de você:
http://www.youtube.com/watch?v=YU547fUsHqI
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5 comentários:
Isso parece uma história que de tão bizarra rendeu um livro infantil chamado "O menino que gostava de ser". A mãe do garoto em questão foi chamada para conversar com a diretora do colégio pq ele queria fazer o papel da bruxa na peça da escola. Devia ter a idade do garoto da academia. A mãe riu da cara da diretora e disse que em casa isso era natural e que devia ser tratado assim.
O teatro nos permite viver na pele deoutra pessoa sem perdermos a nossa própria identidade. E era isso que o garoto aprendia com a mãe.
Infelizmente nesse caso, a diretora do colégio é que não esva preparada.
Adorei Dani
Você é maravilhosa, adoro ler seus texto, apesar de não ter comentado recentemente, tenho lido todos. Maravilhosos!!!
Continue assim.
Beijos, e um bom dia!!!
Dani professorinha rs
Sua visão de mundo é fantástica, é inclusiva, é aberta.
Concordo com td q vc disse. Com o lance do preconceito linguístico, q esconde um social.
Concordo com o lance do preconceito de gênero (coisa de menino X coisa de menina). Isso na criança vai exercer tanta influência, a vida pode se tornar tão mais difícil no futuro... Ser humano é sentir. Chorar é ser humano. É ridículo esse papo de q homem não chora, pq um homem q não se liberta para viver seus sentimentos é um homem frustrado.
Te adoro montão.
Bjokas
Senhorita Daniela,
Cada novo dia uma nova supresa boa.
Seu texto é muito bem colocado, infelizmente isso acontece diariamente. Disseminação de preconceito é algo sem controle. Uma pena!
E vc com toda essa sua paixão linguistica me contaminou com isso. Agora acho destavel alguem ser corrigido. E muito deselegante.
Seu texto mostra bem o q vc é: uma pessoa sensivel a vida e aos outros.
Adoro vc!
bjos do Júnior.
PS: Como disse o Alex não tenho comentado, mas sempre lendo.
é por isso que os psicologos, psicanalistas e psiquiatras que lidam com isso o tempo todo, fazem terapia rs!
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