sexta-feira, maio 21, 2010

O poema, a música, o frio e o vinho branco...

Este friozinho gostoso me remete a você. Agora neste exato momento estou bebendo vinho tinto seco e ouvindo um vinil do Barão Vermelho: Amor meu grande amor! Tudo isto para tentar quebrar o silêncio que há entre nós. 

Antes de decidir postar, falei contigo.  Falei sobre meus medos, angustias, sonhos para o futuro e esta ansiedade que esta me consumindo. Na verdade, a ansiedade em si, não é somente por ti, mas por tudo, pelas expectativas que tenho  gerado acerca do meu futuro  incerto e de algumas mudanças que ando pleitiando com o destino. E olha que eu nem acredito em destino. rs Você iria rir de mim feito um bobo agora. Mas, depois diria algo sensato e voltaria tudo ao normal. rs

Depois do jantar, tentei ler alguma coisa, mas não consegui me concentrar. Como já disse num post anterior, quando faz frio algo se transfigura em mim, e eu não sei explicar. Sei apenas que a noite fria esta bonita pela minha janela. A minha janela funciona como uma luneta do tempo e do espaço. ( Queria tanto uma luneta de verdade. :( Mas, nunca pude ter. Assim como outras coisas... ) Bem, tudo que penso, o que sinto  passa pela minha janela...é um filtro para minha retina. Eu sei selecionar bem o que quero nas noites geladas. Talvez, porque fisiologicamente o frio age de modo positivo sobre meu corpo cansado.

Acabei de flertar com a estante cheia de livros, contudo parece que nenhum deles quis ser lido.Tentei ler, mas não consegui. Pensei em até estudar francês,mas a concentração sumiu. Porque tudo aqui me remete a você: os quadros mal pintados ( q eu pintei na parede do meu quarto), as replicas do Van Gogh, os muitos girassóis, a cama bagunçada, as roupas no chão. Tudo me lembra uma cena de amor, a qual só poderia ser filmada contigo. Por que, às vezes, para se criar uma cena necessita-se daquele ator especifico, e daquela atriz com lenços na cabeça e de óculos escuros ( porque não gosta de mostrar os olhos).

Bem, quando penso em ti, tenho a vaga sensação que deveria estar fazendo algo muito importante: como beber vinho junto contigo, conversar  de mãos dadas olhando o céu da minha janela, falar besteiras, das quais eu sei que você morreria de rir, inclusive, você me repreenderia por estar bebendo vinho ruim e barato(seco) num copo americano, nada sofisticado quanto você, mas eu sei que te ofereço uma liberdade, a qual você nunca havia pensado em experimentar com mulher alguma, pois te dou a chance de você ser você mesmo comigo sem medo de parecer ridiculo. Eu sei que esta liberdade te prende a mim. Ela te torna prisioneiro da Daniela. Confuso isso, mas viciante. Tão embriagador que você não consegue passar um dia se quer sem se lembrar de mim. E de todas minhas bobagens. Mesmo que eu pareca uma garota sem noção, sonhadora, idealista e apaixonada. Talvez o que eu sou te dê outra vida, outra perspectiva. Enfim...Você pode me repreender por eu beber demais, falar demais,  rir demais, chorar demais, sonhar demais, comer demais( se bem q isso tá controlado...rs), mas não por eu amar demais você!  Se eu me excedo é para te preservar.

Eu queria escrever sobre a dor e a alegria que há dentro de vc. Eu queria ver vc em todos os aspectos. Será que consigo? Acho que acordei assim embriagada porque pensei em você e em girassóis. E vc sabe que eu flerto  com a marginalide, por isso me excita pensar em você comigo.

NA VERDADE 

Queria apenas deitar no chão segurando tua mão dizendo bobagens filosoficas sobre a vida. Queria te perguntar sobre linguistica, sobre todas as coisas ruins que te incomodam e sobre seu dia, pois queria saber de você. Queria ouvir sua voz antes de dormir e que você prestasse um pouco de atenção em mim. 

NOTA MENTAL E SENTIMENTAL - Quarta-feira( 19) fui tomar um café com o Will e comentei com ele sobre um poema do João Cabral de Melo Neto. E irei postá-lo aqui para o Will. Promessa é divida. rs
Prometi para o Mauretes escrever sobre ele. E irei fazer. Mas, preciso fazer isto sóbria. Porque assim, só penso no objeto do meu desejo. rs 

TRILHA SONORA DO DIA - AMOR MEU GRANDE AMOR - BARÃO VERMELHO - 


 
O POEMA:

Os Três Mal-Amados
João Cabral de Melo Neto

Joaquim:
O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato. O amor comeu minha certidão de idade, minha genealogia, meu endereço. O amor comeu meus cartões de visita. O amor veio e comeu todos os papéis onde eu escrevera meu nome.
O amor comeu minhas roupas, meus lenços, minhas camisas. O amor comeu metros e metros de gravatas. O amor comeu a medida de meus ternos, o número de meus sapatos, o tamanho de meus chapéus. O amor comeu minha altura, meu peso, a cor de meus olhos e de meus cabelos.
O amor comeu meus remédios, minhas receitas médicas, minhas dietas. Comeu minhas aspirinas, minhas ondas-curtas, meus raios-X. Comeu meus testes mentais, meus exames de urina.
O amor comeu na estante todos os meus livros de poesia. Comeu em meus livros de prosa as citações em verso. Comeu no dicionário as palavras que poderiam se juntar em versos.
Faminto, o amor devorou os utensílios de meu uso: pente, navalha, escovas, tesouras de unhas, canivete. Faminto ainda, o amor devorou o uso de meus utensílios: meus banhos frios, a ópera cantada no banheiro, o aquecedor de água de fogo morto mas que parecia uma usina.
O amor comeu as frutas postas sobre a mesa. Bebeu a água dos copos e das quartinhas. Comeu o pão de propósito escondido. Bebeu as lágrimas dos olhos que, ninguém o sabia, estavam cheios de água.
O amor voltou para comer os papéis onde irrefletidamente eu tornara a escrever meu nome.
O amor roeu minha infância, de dedos sujos de tinta, cabelo caindo nos olhos, botinas nunca engraxadas. O amor roeu o menino esquivo, sempre nos cantos, e que riscava os livros, mordia o lápis, andava na rua chutando pedras. Roeu as conversas, junto à bomba de gasolina do largo, com os primos que tudo sabiam sobre passarinhos, sobre uma mulher, sobre marcas de automóvel.
O amor comeu meu Estado e minha cidade. Drenou a água morta dos mangues, aboliu a maré. Comeu os mangues crespos e de folhas duras, comeu o verde ácido das plantas de cana cobrindo os morros regulares, cortados pelas barreiras vermelhas, pelo trenzinho preto, pelas chaminés.  Comeu o cheiro de cana cortada e o cheiro de maresia. Comeu até essas coisas de que eu desesperava por não saber falar delas em verso.
O amor comeu até os dias ainda não anunciados nas folhinhas. Comeu os minutos de adiantamento de meu relógio, os anos que as linhas de minha mão asseguravam. Comeu o futuro grande atleta, o futuro grande poeta. Comeu as futuras viagens em volta da terra, as futuras estantes em volta da sala.
O amor comeu minha paz e minha guerra. Meu dia e minha noite. Meu inverno e meu verão. Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte.

As falas do personagem Joaquim foram extraídas da poesia
"Os Três Mal-Amados", constante do livro "João Cabral de Melo Neto - Obras Completas", Editora Nova Aguilar S.A. - Rio de Janeiro, 1994, pág.59.





5 comentários:

William Lima disse...

Ei
q q isso?!
uau
Dani, esse post me parece o mais corajoso de todos. O libertador. E não coloque a culpa no vinho, porque ele nada tem a ver com suas paixões. Ele nada tem a ver com sua capacidade literária.
Vc me envolve com sua escrita, com esse estilo Daniela.

"Acabei de flertar com a estante cheia de livros, contudo parece que nenhum deles quis ser lido.Tentei ler, mas não consegui. Pensei em até estudar francês,mas a concentração sumiu. Porque tudo aqui me remete a você: os quadros mal pintados ( q eu pintei na parede do meu quarto), as replicas do Van Gogh, os muitos girassóis, a cama bagunçada, as roupas no chão."
Parece que a arrumação da Dani está de volta. Cada vez melhor, cada vez maior. Cada vez mais libertadora. Ou não. rs

PS: e o vinho branco do título?

William Lima disse...

"...eu sei que te ofereço uma liberdade, a qual você nunca havia pensado em experimentar com mulher alguma, pois te dou a chance de você ser você mesmo comigo sem medo de parecer ridiculo. Eu sei que esta liberdade te prende a mim. Ela te torna prisioneiro da Daniela."

Deixando de ser prisineira para ser quem prende? Isso é liberdade pra vc, então? Ou estaria apenas fortalecendo os laços da prisão?

Liberdade de expressão não me parece ser liberdade plena.
Vc se expressa maravilhosamente bem, mas é inegável a prisão nada libertadora de se estar apaixonadamente amando...

PS: acabei de chegar do cinema. Fui ver Fúria de Titãs. Filme mto bom, aprendi um pouco mais de mitologia grega! Adorei a cena com a Medusa: tão assustadora que petrifica quem é de carne.

bjokas

Artus Rocha disse...

Este alguem deve estar muito emocionado agora, com palavras tão doces de alguem tão maravilhosa. ( vontade de ser ele )
Correndo o risco de ser repetitivo, tenho que te falar que seus textos são maravilhosos, adoro te ler. Cada vez melhor.
Acho que lera este coment, demanhã, então
Espero que seu dia seja maravilhoso, como você merece!

William Lima disse...

Caro Alex, não sei se tenho propriedade para falar sobre isso, mas o que está parecendo é que esse alguém está precisando de uma chacoalhão, pq a Dani ta indo bem, se revelando, mas ela não pode fazer td sozinha o tempo todo...

William Lima disse...

DanielaLinda:

Muito bonito mesmo o poemo do joão Cabral. Bem que vc me disse no dia do café.

"O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato."

Não sou mais eu, sou só o amor...