Estou morrendo. São 1h45 da madrugada e a única sensação viva dentro de mim é que estou morrendo... Estranho falar de sentimentos vivos dentro de mim em minha morte iminente. Estranho ou trágico?
Tantas lembranças permeiam minha cabeça agora... E a mais pertinente é de quando experimentei chocolate com morango pela primeira vez. Acho q o nome do chocolate era sensação (aquele da Nestlé). Eu tinha cinco anos... Lembro-me como se fosse hoje. Aquele gosto doce e exótico do creme de morango, misturado ao chocolate, que chegava a dar certo frescor e uma ardidinha na garganta. Esse gosto me faz querer viver agora... O gosto me faz viva e me faz ter vontade de relembrar a minha infância.
Sempre fui uma garota distante, um tipo de nerd “pos-moderno”, pois apesar de ser uma boa aluna, meu comportamento sempre deixará a desejar... Nunca gostei de bonecas e “barbies”, mas com certa dor no peito, me lembro que sempre quisera gostar. Eu queria me parecer com as outras garotas. Mas não tinha semelhanças... Lembro-me uma vez que até tentei colecionar papeis de carta, um desastre...
Acho que isso me fazia não querer ser a criança que eu era. O fato de não me aceitar me assombra até no meu leito de morte.
A garotinha curtia mesmo era bater nos meninos, ler, brincar com bichos, fazer artes e brincar na rua, mas não queria ser assim... Queria ser mais arrumadinha, mais delicada e gostar de “barbies”, como as meninas que sempre a rejeitaram... Talvez até hoje vista uma roupa que não seja minha... Talvez tenha tentado agradar tantas outras pessoas e não percebi que a roupa não me servia mais...
Eu gostaria de ter sido mais eu... Ter me aceitado de verdade. Minha essência é minha maior dádiva... e só percebo agora. O gosto do chocolate com morangos faz com que morrer seja um sofrimento gritante, o qual só o silêncio sufoca.
Daniela Bueno
O blog de uma balzaca que gosta de falar acerca de literatura, política, cinema, saúde, vida, filosofia, animais, culinária e da sua eterna luta contra a balança. Espelho, espelho meu, existe alguém mais atrapalhada, apaixonada, desastrada, compulsiva, gulosa, dedicada, teimosa, estudiosa, impulsiva, chorona, triste, pirada, ansiosa, alegre e dialética do que eu?
2 comentários:
Nossa, adorei o texto! Surpreendente e poético.
Às vezes penso em (re)criar um blog também hehehe
te adoro
bjos
Dani,
Estou emocionado, vc sempre consegue isso, né?
Texto lindo como vc!
Saudades dos cafés!
Saudade de vc!
bjo, Júnior
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