sexta-feira, novembro 16, 2012

A barba



Ele chegou à  casa da namorada  um pouco angustiado. As mãos suadas e uma preocupação que fazia parte do seu semblante ansioso.  Ela o viu e correu para seus braços. 

- Quantas saudades fracionadas e tão inteiras, meu amor. Quero te encher de beijos a vida toda. Disse ela beijando-o com o sorriso. 

Ele a afastou do seu peito com um olhar de quem queria dizer algo, mas perdera a energia, como uma luz que acaba bruscamente,  sorriu amaraledamente e disse:

- Preciso te dizer algo que tem me tirado o sono.  E ando com medo. Tanto medo que meu sossego sumiu, passo o dia, a noite com o peito apertado, coração diminuto e com medo. Disse ele com as mãos juntas como se orasse para espantar tanto temor. 

-Fale logo, homem! Agora sou eu quem ficou ansiosa. O que tens a me dizer, diacho!  Indagou a moça com voz tremula e num tom alto. 

- Meu patrão... Ah! Tenho pavor de pensar que você possa não me amar mais. Mas... Meu patrão pediu para eu tirar a barba por causa do trabalho e...e...mesmo assim você vai me querer do tanto que quer, vai me amar desmedidamente como ama? 

Ela sorriu e correu para os braços do moço  desesperadamente e disse: 

- Eu vou te amar diuturnamente e depois dessa ode ao amor que você me cantou com seus medos e tanta paixão. Não há volta. Estou entregue  a ti com ou sem barba. E o beijou apaixonadamente como quem pedisse água.  

Ela a olhou sorrindo e disse:

- Sempre soube que era você. Desde aquele primeiro beijo entre o campo de futebol e a lua. Sua imagem e a lua, seu rosto lunático. Seu sorriso e articulações que parecem a poesia personificada e agora... agora...só tenho a dizer que sou escravo da alegria...e parafraseando Vinicius de Morais – seu poeta predileto – “ Se o amor é fantasia eu me encontro ultimamente em pleno carnaval”. 



As mãos de ambos se procuraram naturalmente – porque quando se ama é assim - , deram-se as mãos e o nó foi atado . Saíram para sambar.

 Trilha Sonora do Post - Escravo da Alegria - Vinicius de Morais 
E eu que andava nessa escuridão
De repente foi me acontecer
Me roubou o sono e a solidão
Me mostrou o que eu temia ver
Sem pedir licença nem perdão
Veio louca pra me enlouquecer
Vou dormir querendo despertar
Pra depois de novo conviver
Com essa luz que veio me habitar
Com esse fogo que me faz arder
Me dá medo e vem me encorajar
Fatalmente me fará sofrer
Ando escravo da alegria
E hoje em dia, minha gente, isso não é normal
Se o amor é fantasia
Eu me encontro ultimamente em pleno carnaval


3 comentários:

Anônimo disse...

"Me roubou o sono e a solidão
Me mostrou o que eu temia ver
Sem pedir licença nem perdão
Veio louca pra me enlouquecer"

Vc roubou a minha. E que delícia de conto e quanta abnegação pelo amor. Vc é uma linda.

Anônimo disse...

Só vc, Daninha! Que conto bonito.
Júnior.

Elias disse...

Lindo conto! |o/