sábado, outubro 27, 2012

Reencontros em San Thelmo



Nota pré-conto: Para o conto escolhi o bairro de San Themo da capital argentina Buenos Aires; porque naquele lugar me senti em casa. 
Fotos: Daniela Bueno. Com exceção  da  foto área da região do aeroparque e as fotos, nas quais sou modelo. =)

Na imigração. Um sorriso surpreso.  E corações descompassados.





-Oi.  Não imagina te encontrar por aqui, no Aeroparque em Buenos Aires.
-É adoro esse país, que cheira malbec e livros. Adoro a terra de Cortazar, Quino, Gardel.  Sempre venho aqui, aliás... eu adoro descer neste aeroporto, acho ele surreal. Disse ela apertando o documento de identidade com força contra o peito - para tentar desfarçar as batidas do coração -, antes de passar pela imigração.
Ele sorri um pouco desconcertado. E a olha com o mesmo desejo de antes e diz com a voz trêmula:
- São anos sem te ver. E você continua a mesma. Com o mesmo jeito de olhar profundamente. Com a boca que mexe sem parar. E esse jeito de quem quer algo e não sabe o que. Como pode?
- Você é bobo. Diz ela com um sorriso da Capitu do Machado.
- Seria bobeiras ou tonteiras... fico assim quando leio teus livros, artigos, poemas, contos e blog. Fico assim quando penso em você e mais atordoado ainda quando te revejo...
-São tonteiras mesmo. Eu sou tonta. E solta uma gargalhada alta, a qual chama a atenção de todos a sua volta. Inclusive da moça do guichê que a chama para a burocracia de rotina. Eles passam pela imigração e caminham pelo aeroporto sem querer saber onde fica o ponto de taxi, o qualquer lugar que poderia os separar.
- Você fica até quando na Argentina? Pergunta ele.
- Vou embora daqui cinco dias. E você?
- Talvez nunca mais. Não sei ainda. Quando olho para você penso nos planos perdidos em alguma janela do passado. E lembro de todas suas cartas. Tuas letras...e reticências. Ainda toma muito vinho?  
- Tomo...Bebo felicidade. Responde ela, olhando fixadamente para seus olhos.
- Você sempre me alucinou. Vamos tomar logo um  café? Convida o moço cheio de segundas intenções, as quais são tão claras que deixaram do primeiro olhar de serem clandestinas.
- Claro. Ela sorri...porque entende que a sina seria com ele, em qualquer lugar onde as mulheres fossem mais melancólicas, pois a beleza vive ai.
Ele puxa a cadeira com delicadeza para a moça sentar. E senta-se na frente da moça.  E diz com certa saudade declarada:
- Queria dizer. Confessar – seria o verbo correto – que a cada crônica, conto, texto teu. Apaixonei-me mais e mais numa progressão geométrica e não entendo como isso seja possível. Te desejei todas as manhãs do mundo. E imaginava nas madrugadas qual o melhor vinho para beber em você. No teu corpo sorvendo e bebendo.  As lágrimas são inevitáveis agora.
A moça tenta se conter, mas desaba e diz:
- É...tem imagens que não sai da gente. Ficam na cabeça. Não tem jeito, né? Todas ficaram decoradas. Diz a moça tentando sufocar o choro.
Ele segura nas mãos da moça. Aperta como antes. E  fala como quem canta:
- As imagens estão tatuadas em mim. Você adorava as mordicadas na nunca. As mordidas em Baco. Ai vem àquela imagem tão desejada do bom vinho derramado em você, para eu sorvê-lo e ser você.
A moça sorri e bebe o café. Ele continua.
- Todas as manhãs do mundo,  imaginei-me tomando café contigo. Para depois do café te beijar com gosto de café. E depois ouvir você falando como quem ama e olhar sua boca se mexer.
-Ai você não muda e continua a me confundir. Lembre-se da minha dialética. E a moçoila continua a beber o café com desejo clandestino; de que ele lhe beije logo.
Ele a fita nos lábios. E diz:
- Tenho acompanhado suas redes sociais de longe. Suas fotos. Sua nova bicicleta. Você em  sua bicicleta ficou mais do que mais sedutora...Acho que  Afrodite foi destronada, por suas letras, olhares e artimanhas de sedução...Zeus que se cuide, porque eu já me entreguei...Alias... não consigo adjetivar mais seus substantivos...tamanha é a sedução que seus olhos exercem em minha alma..
Ela o beija como o atrevimento de todos os atrevidos do mundo. Ele a segura forte. Ela o suga no beijo como se aquele beijo fosse o inicio da descoberta do mundo. Ela diz beijando-o:
- Não me esqueci de você por um segundo. Por um minuto. Ele raspa a barba nela e ela continua falando, beijando e gargalhando. Eu ainda tenho todas as nossas fotografias. Desde aquela tarde na praça. Ele a beija mais forte e intensamente. Ela interrompe o beijo e diz assustada:
- Vamos nos hospedar em San Thelmo. Conheço um hotel que ao abrir a janela veremos a pracinha da Mafalda de Quino. Vamos? Lá Marx vive. E lá... nessa mesma praça, poderemos cantar, beber e amar. Você começaria pelos meus pés. Depois você me daria aula de geografia, biologia, história e eu te ensinaria a amar. Amor...é a única coisa de que entendo de fato. Você escolheria a canção e eu as maneiras de amar.









Ele a abraça e diz:
- Você está  re-escrevendo nossa historia, só que agora em portenhas terras? Você  está sinalizando que precisamos além de reescrever, voltar a construir uma historia? É isso? Admita! Responde! Indaga  ansioso o moço.
Ela sorri marotamente e responde como quem foge:
- Eu? Estou apenas imaginando... com letras e pensando em te dar de presente um guarda-chuva vermelho.  E o abraço loucamente como quem pede abrigo, casa.
Ele compreende a metáfora do guarda-chuva vermelho e sorri:
- Tua imaginação jamais traiu seus desejos e vontades....seus imediatismos e suas aventuras, sua urgência de vida que tanto amo. Agora estou pensando em te fotografar a luz do rio da Plata...
- Eu sei que você sempre quis retornar para meus braços. Partimos?
- Agora?
- O café acabou. Retruca a moça com olhar cheio  de desejos explícitos e escancarados.
-Caminhamos até San Thelmo. De mãos dadas. Quero te contar algumas histórias da Argentina. Vamos? Mas antes... quero reafirmar que você sempre me seduziu, seduz e seduzirá, não só pelas letras, mas pela boca que tem muito de insinuação. E a barba sempre estará aqui para roçar sua nuca.  
Ela sorri alto. E diz:
- Vamos...Comecemos a falar de Gardel ou Che, ok?
Ele pega na mão da moça e diz:
- Mulher apaixonada como você – pela vida, mundo, pessoas, pelo amor e por mim -  é um pleonasmo que vale o erro.
Ela gargalha. E eles seguem de mãos dadas para descobrir San Thelmo...

TRILHA SONORA DO CONTO - AMOR CLANDESTINO - MANÁ 

Um comentário:

Anônimo disse...

O que posso dizer se a cada dia me apaixono mais, Afrodite. Ai pobre de mim se zeus vier me perseguir. (rs)
Vc é algo que não tem como descrever de tão apaixonante.
A barba continua a crescer. E o seu conto é o reencontro dos sonhos de qualquer mortal. Assim como vc habita meu imaginário, sua linda! Júnior.