terça-feira, outubro 16, 2012

Canções sem palavras e chuva

A chuva estava forte. O relógio apontava quase 17h. E a chuva não passava, só aumentava na velocidade de uma progressão geométrica, na mesma proporção que os ponteiros do relógio corriam (chuva e tempo proporcionalmente irmãos naquele presente)... Como se houvesse uma conspiração do universo contra a moça. Ela apertava os dedos... Apertava como quem pedisse “ Deus, pare com a chuva, por favor, até às 17h”. A moça olhava pela janela. Como se visse além, do tempo e do espaço... Como se enxergasse algumas lacunas que nunca mais pudessem ser preenchida depois das 17h.

A moça compreendia que dependo da hora, havia situações que não poderiam ser revertidas ou explicadas e que a vida era urgente e sem medida, como as canções sem palavras. Porque é nos acordes sutis ou não, enlaçados à nota musical que existe a possibilidade de vencer o tempo e o espaço. Era lá... nas notas e na melodia que ela era levada a lugares imaginários e ao quarto de Van Gogh- desarrumado e amarelo-. Ela chorou, mas não sabia se era por causa da chuva, a qual não passava e o já marcava 17h, ou porque se encontrara, naquele instante, nas melodias sem letras, mas cheia de poesias.

O telefone celular tocou. Ela não teve coragem de atender. Chorou porque a chuva fazia renascer algo de sol. Algo que no momento seria toda a ruptura possível. Tirou do bolso um bilhete e o leu em voz alta:

“ Você me ensinou que na música existem outros universos possíveis...Lá onde moram as melodias, eu sou a nota e você o violino. E quando estiver saboreando seu Malbec e abrindo as portas da imaginação, ouça as canções e me sentiras...”

Ela fechou os olhos e ouviu a chuva. E sentiu a canção sem letras, a mais poética da sua vida. O barulho da chuva perto do crepúsculo. Enxugou às lágrimas e partiu na chuva.

Trilha Sonora do Dia - Pra Você Guardei o Amor - Nando Reis

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