sábado, julho 28, 2012

SEPARAÇÃO

CENA INTERNA NO QUARTO – NOITE. 

A câmera passeia pelo ambiente do quarto, focando nos livros jogados, CDs, cama desarrumada, filmes sobre a mesa, revistas, pôster do Beatles, Mafalda, quadros e roupas jogadas. Um discurso em off inicia quando a câmera foca na foto de um homem( aparentando 45 anos, barbudo, moreno,  magro e algo).
impõem

[em off – voz feminina]

Acabou. Não há porque escrever.
Não há porque fazer música. E agora estou além do tempo e espaço, do
mesmo espaço que você. 

Câmera foca um cd do Bach em primeiro plano. ( cravinho ao fundo)
Câmera passeia em plano geral pelo quarto e fixa no documento de identidade de uma moça (cabelos curtos, olhos grandes e expressivos, branca, baixa, acima do peso).

Para a canção. [em off – voz feminina]

Você está morto. E eu longe da vida, pois você comeu minha identidade, meus sonhos e levou o dinheiro da compra do mês. (Choro compulsivo)

Câmera foca na moça em primeiro plano se olhando no espelho.

Agora ele está além do tempo nesse instante, por que eu amo tudo que é indefinido e vago? Por que eu não vivo? Tudo o que eu queria era quebrar este  espelho e encontrar outro mundo possível, porque não reconheço a imagem refletida no espelho. ( sobe o cravinho de fundo).  E ela grita se tocando no espelho. Achei que Bach compunha para você, mas é divino demais para quem vive no inferno como eu. Mas sim, ele compunha para você. O seu sorriso terminava e começava no primeiro acorde de Bach. Seu sorriso sempre foi o inicio do que eu temia.
Essas palavras que vomito, são silêncios, hiatos num mundo que não cabe mais nós. Fui eu que aceitei essa condição de manifestar todo meu sentimento pela boca, ou mesmo pelas canções, mas foi essa minha liberdade que nos matou. 

Câmera passeia lentamente pelo quarto e fixa na cama desarrumada. 

A cama ainda desarrumada tem tanto de nós, como se você continuasse nu em suas decisões pragmáticas e claras e eu perdida nos meus discursos dialéticos. Eu gosto de ilusões (congela imagem e som)

Bruscamente a câmera fixa  na moça e na sua imagem refletida no espelho ( lateralmente)

Eu só queria que você entendesse que hoje o meu silêncio tem som. Não tem identidade, ou nome porque você foi o único sentimento possível. 

(a moça quebra o espelho com as mãos abertas) 

Um brinde para a nossa morte. (sobe Bach ao fundo)

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