Imagine
sua vida e tudo o que você sabe sobre ela, ou seja, o que compõe a sua história.
De repente, a vida, por meio de uma tragédia, lhe traz algumas novidades e você
descobre que tudo que sabia sobre você era mentira. E decide buscar a verdade,
todavia percebe que há fatos que são melhores não termos conhecimento. Que, às
vezes, meias verdades são como um tipo de salvação da desgraça humana, o qual
todos estamos submetidos. Apesar de ser Nietzcheana e sempre estar à procura
das verdades, percebi que às vezes é melhor não saber de tudo.
O
filme franco-canadense do diretor Denis Villeneuve - “ Incendies” - além de chocante, é
surpreendente. O titulo do filme cai como uma luva, porque a cada cena nos sentimos
incendiada pela devastação da vida de Nawal Marwan (Lubna Azabal). O fogo arde
alma e no corpo.
A
película é narrada por meio de intertextos e subtítulos, o que o deixa mais
envolvente e ágil. A história inicia-se com o subtítulo “ Os Gemeos” e a cena
inicial é a leitura do testamento da sua mãe e suas vontades póstumas . “ Todos
os meus bens serão divididos entre os gêmeos Simon Marwan(Maxim Gaudette) e
Jeanne Marwan(Mélissa Désormeaux-Poulin), porém a lapide só será posta no meu
tumulo quando cumprir uma promessa” Nawal
Na
leitura do testamento os gêmeos descobrem que eles têm um irmão e que o pai,
que ambos achavam que havia morrido, estava vivo. Dentro os pedidos do
testamento há duas cartas, uma para Jeanne entregar ao pai, incumbindo-a a
missão de encontrá-lo. A outra para Simon entregar o irmão. E quando os irmãos
cumprirem sua missão uma carta será lhes dada, a qual explicará tudo. “ O
silêncio será quebrado, uma promessa cumprida e uma lapide poderá ser colocada
sobre minha sepultura” Nawal
Após
a leitura do testamento Simon decide não seguir as instruções da mãe( porém
muda de idéia no decorrer da história), mas Jeanne decide rapidamente buscar as pistas
necessárias para cumprir a vontade da mãe. Nesta tarefa, encontra os indícios
que vão, pouco a pouco, reconstituindo a impressionante biografia de sua mãe e as
suas próprias.
Trailer
do filme:
Incendies
é construído a cerca de revelações chocantes que giram em torno de uma mulher,
Nawal Marwan, que teve a vida marcada por tragédias, que se iniciou com a morte
do seu namorado pelo irmão e pela gravidez precoce. E depois do nascimento do
filho a sua avó a obriga a oferecê-lo para adoção, uma forma de não sujar mais o nome da família, em nome da
honra. A mulher obedece à ordem, mas promete ao filho o reencontrar.
O
pano de fundo do filme é o choque cultural, a intolerância religiosa, pois na época
que Nawal deixa o filho contra a vontade está estourando um conflito religioso
entre cristãos de extrema-direita e
mulçumanos. O filme se passa no Canadá e no oriente médio, o qual não dá para
saber ao certo o local. O diretor criou uma cidade fictícia chamada Daresh. Mas
com o decorrer da história descobrir o local que se passa a história não é o
mais importante.
Incendies busca a compreensão da verdade. Mas qual? Até
aquela construída no horror, no desespero, na tortura? O filme traz a tona questionamentos
filosóficos sobre a verdade e sobre nós mesmos. É chocante, mas uma obra prima,
a qual não deixa de ser aberta...
La
femme qui chante
Nawal é uma mulher corajosa. Foi presa, torturada, violentada
e estuprada por ter assassinado o líder da direita-cristã, apesar de ser
cristã. Uma mulher marcada pela intolerância, violência e ódio por ser mulher
num mundo hostil e machista. Uma mulher que nunca, em nenhum momento da sua
vida, desistiu de encontrar o filho que teve que renunciar no passado. Uma
mulher que se envolve na luta política e termina presa por 15 anos. Passando
por todo tipo de violência inimaginável, mas mesmo assim ela não se entrega e
não se ajoelha a seus carrascos. Continua em pé. Sempre.
Nawal
canta na prisão para não enlouquecer e resistir a dor. Ela se torna conhecida
como a mulher que canta da cela 72. Uma mulher que canta o seu desespero e
melancolia para resistir à vida.
You and Whose Army - Radiohead
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