Santiago, pescador cubano, passou
3 meses sem pescar nenhum peixe. Sua
confiança em si mesmo, assim como os peixes que não pescava, não existia mais. Ele decidiu numa madruga ir para o mar aberto tentar
pescar peixes a si mesmo. E nesta aventura se depara com toda sua solidão humana, seus fantasmas e
trava uma batalha, não somente como o peixe gigante, mas consigo.
O velho Santiago era miserável,
morava numa tapera e quase não comia, não vivia há 85 dias, porque sua
existência consistia na pesca. Ou em
algo que ele não sabia distinguir... Santiago possuía um amigo, um garoto, o qual
ele ensinará a pescar na infância, mas como o velho não pescava mais, os pais
do menino o levaram até outro pescador para lhe ensinar o oficio. Afinal
ninguém quer o filho aprendendo com um derrotado, né mesmo?
Porém o garoto nutria um
carinho/amizade pelo velho e o admirava. Sempre que podia ia cuidar dele. O
garoto sabia q ele passava faltas: não tinha comida, não tinha coberta e nada. Porém
o velho imaginava ter uma rede e uma panela cheia de arroz com peixe. Uma das cenas
mais bonitas da amizade dos dois é retratada quando o menino paga uma cerveja e leva
comida para o velho. Arruma os jornais para Santiago dormir num gesto de amor
fraterno indizível/indescritível.
“ Não existia nenhuma rede e o
garoto se lembrava muito bem de quando a tinha vendido. Mas esta era uma cena
que repetiam todos os dias. Também não havia nenhuma panela de arroz com peixe
e o garoto também sabia disso.” Pág 12
Querendo provar aos outros e a si
mesmo que voltaria a pescar, decidiu se aventurar em alto mar com o apoio do
garoto. Porém partiu sozinho para a aventura. E é lá em mar aberto, à
deriva, onde ele descobre que não pode
estar só de fato, além dos animais
marinhos, das aves, há os nossos
fantasmas interiores, nossos monstros, os quais na solidão marítima eles não
têm nada de solitários, são vivos e têm voz, chegam a gritar...
Santiago fisga um peixe gigante e
trava uma batalha com o “monstro” por três dias. À medida que a guerra pela
vida do peixe e do homem é travada, o leitor mergulha num monologo interior
cheio de dúvidas, angustias e sonhos. A loucura de estar à deriva no mar aberto
é um fio tênue entre a sanidade e a loucura.
No combate com o peixe, Santiago
desenvolve certo apreço pelo animal. E do amor/compaixão surgem seus maiores
dilemas e conflitos de consciência. Quantas vezes quisemos matar algo dentro de
nós, mas de tão belo não conseguimos destruir, mesmo tendo a certeza de que seu
destino era a morte. Santiago entra em
crise existencial por ter que matar peixe tão digno e belo.
“O peixe também é meu amigo... Mas tenho de matá-lo. É bom saber que não
tenho de tentar matar as estrelas. (...) Imagine o que seria se um homem
tivesse de tentar matar a lua todos os dias... (...) Ninguém merece come-lo,
tão grande a sua dignidade e tão belo o seu modo de agir. (...) Já é ruim o
bastante viver no mar e ter de matar os nossos verdadeiros irmãos.” Pág 56-57
Porém para provar para si, para os outros que ele valia algo em sua miséria humana precisava matar o peixe. A batalha entre
ele e o peixe durou 3 dias e a dor e o
sofrimento do peixe começou a incomodá-lo. Chegou num momento que ele teve a
certeza que tanto faz...
“ Você está me matando peixe. ..Mas tem o direito de fazê-lo. Nunca vi
nada mais bonito, mais sereno e nobre do que você, meu irmão. Vem daí e mate-me.
Para mim tanto faz quem mate quem...” pág 69
Por fim, o grande peixe se curva
a força do velho. Aparentemente o velho venceu... Dai surgem os tubarões
impedindo que a vitória seja completa. Assim como na vida, além de vencer
nossos monstros a demônios exteriores que nos desafiam e algumas vezes matam o
que temos de melhor. “ O inferno são os
outros” Sartre
Leitura que vale mais que a pena.
Leitura ágil que explora os limites humanos diante da natureza voraz e cruel...outras vezes
doce e terna. Tudo esta em movimento e a luta é cíclica. Leitura que liberta...
Ernest Hemingway resume o mundo e sua visão do homem nesta obra. Sensacional. Às vezes somos o velho, outras o peixe e outras ainda os tubarões. #fato
“ É uma estupidez não ter
esperança...Além disso acho que é um pecado perder a esperança. Mas não devo
pensar em pecados. Já tenho problemas demais para começar a pensar em pecados.
Par dizer a verdade, também não compreendo bem o que são os pecados. Não os
compreendo e nem sei bem se acredito neles. Talvez fosse um pecada do ter
matado o peixe. Suponho que sim ,embora a carne
fosse para me conservar a vida e
para alimentar muita gente. Mas então tudo é pecado. É demasiado tarde para
isso e há pessoas cujo oficio é esse” pág78
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