sábado, dezembro 03, 2011

Há dias...

Há dias que a noite, apesar de toda vastidão possível, fica pequenininha, apertadinha e de repente, ela fica grandona de novo. Como se fosse uma ondulação...um movimento mais que físico e nada relativo. Todavia é nas horas da sensação de aperto que o desejo do alívio é descompassado.

Hás dias que a necessidade de leitura é fato. Mas não qualquer uma...aquela que comove o coração. Eu sempre quis ser comovida. Sempre esperei comover...Comover...é uma ação dependente de tantas outras , mas mesmo essa relação de necessidade do outro verbo não limita seu significado, o qual poderia ser sinônimo do meu coração. 

Há dias...que tenho medo de ouvir a voz decorada do coração de algum moço. Algum moço que tenha mais que olhar e desejo para me oferecer. Que tenha voz...que tenha acordes. Tenho medo dos acordes serem perfeitos como os de Bach. Tenho medo de ouvir demasiadamente notas sutis. Há dias que só há sertão dentro da gente, parafraseando Rosa. Há dias que acordo pensando se ele me esqueceu. Contudo ele não seria capaz, porque ele nem sabe de mim, das minhas roupas, da minha caixa de cartas embaixo da cama, das minhas meias rasgadas, da minha coberta vermelha da infância, do travesseiro, o qual personifica meus pensamentos durante a pequena morte. Será que ele sabe de mim? De nós?

Há dias que acordo sem foco. Esqueçam... Nunca tive foco. Há dias que eu queria ter mais controle sobre a possibilidades de chuva no sertão... Porque essa secura machuca a gente por demais. A falta d água... arremessa-me na margem da frase não dita. Como se assim, quiçá, pudesse matar toda sede escondida em mim. Há dias que eu sou uma sequência de números perdidos no caos. E uma equação sem resposta. Não existem provas da minha validade. Em outros dias eu só queria criar palavras, prosear e serenar... 

Há dias em que só um café, uma leitura e um tanto de música ( maior que o infinito) me salvam do tédio. =) Há dias...extremos e sem reticências, somente com ponto final. E em outros, a liberdade linguística grita abaixo à pontuação e toda repressão da norma. Há dias que eu sou...que tu és...e -que espero – somos.
Trilha sonora do dia – Tenho Sede Gil 

5 comentários:

Felipe Braga disse...

Talvez não ser é ser sem que tu sejas,
sem que vás cortando o meio-dia
como uma flor azul, sem que caminhes
mais tarde pela névoa e os ladrilhos,

sem essa luz que levas na mão
que talvez outros não verão dourada,
que talvez ninguém soube que crescia
como a origem rubra da rosa,

sem que sejas, enfim, sem que viesses
brusca, incitante, conhecer minha vida,
aragem de roseira, trigo do vento,

e desde então sou porque tu és,
e desde então és, sou e somos
e por amor serei, serás, seremos.

Pablo Neruda

Felipe Braga disse...

Lembrei muito desse poema, enquanto lia. E aí veio uma coisa linda: Guimarães Rosa, Neruda e Daniela, no mesmo texto, se mostraram pra mim, inteiros e perfeitos como são.

Vou te contar uma coisa, e espero que não esqueça: há dias que são chatos, que são quando não falo contigo, não percebo seu encanto; há dias que são maravilhosos, quando ganho uma palavra, um sorriso seu.

Anônimo disse...

Vc é bela, doce, brava e clara. Intempestiva na medida certa.
Vc é uma moça com uma fita no cabelo ou presilhas, sempre um livro nos braços, um mp4 e um olhar lindo e perdio a vagar. É a mocinha que eu sempre encontro a caminhar nas ruas de Marília.
Vc seria a menina com um flor do Vincius, Daninha.
Adoro muito vc, minha querida.
Adoro teus textos. Bom estar perto de vc, que sorte eu tenho.
Júnior

William Lima disse...

há dias que ficar a tarde toda tomando cerveja e falando do coração é o melhor que se pode fazer.
há dias que vc quer olhar pra alguém, esperando ser entendido assim, só olhando.
há dias que você queria ouvir que é importante pra alguém.
há dias que vc só quer se sentir vivo.
lindo texto. te amo. bjokas

Anônimo disse...

há dias que eu queria ser esse moço do qual vc fala neste lindo texto...as vezes me pego pensando se não sou eu... mas seria muita ousadia da minha parte... sempre te amarei...
vc saba quem...
bj