O centro da cidade estava
inviável e intransitável, não havia rotas de fugas. Nem possibilidade de
transitar no intransitivo, porque era gente para todos os lados, visto de cima
o centro parecia um formigueiro humano. Todavia
formigueiros humanos não são democráticos e nem possuem espírito coletivo
como os da formigas, pois neste ultimo as formigas comungam a vida e o afeto,
já nos “humanos”...
O calor de quase 40graus também contribuía
para a formação do inferno em Terra. Jorge se sentia no inferno e sem possibilidade
de trilhas sonoras. Continuava a tentar caminhar, apesar da dificuldade e das
pedras. O rapaz fora ao centro a pedido da esposa, pois a mulher esquecera os últimos
presentes de natal e incumbira Jorge da tarefa.
Jorge odiava multidões e fazer
compras, porém ele era passivo demais para dizer não a esposa, além de não
querer estabelecer uma crise na relação
na véspera de natal. Se bem que a data também não importava para ele. No fundo,
ele estava cansado demais para discussões. E quando se esta assim... a
passividade é uma escolha saudável.
Pessoas apressadas com sacolas
passavam e não enxergavam ninguém, nem um sorriso era oferecido. Refletindo
sobre o comportamento das pessoas, Jorge, pensou: Natal é uma festa dialógica,
de vários significados e cheia de diferentes discursos: para os donos do comércio
significa aumento nos lucros, para
outros férias, bebida e comida em excesso. Ainda para outros a possibilidade de
curar seus males comprando e se iludindo. Para alguns cristãos o nascimento de
cristo, para outros a vida. E para os animais – porcos, perus, vacas e outros-
a morte. Nossa! Que data complexa! Exclamou Jorge suando... E se indagou mais:
De onde vem a figura do papai Noel? Para que tanto consumo e excesso numa época
só?
Jorge não entendia, apesar de ser
ateu, como conseguiram transferir o presépio de Belém para as lojas. Tudo parecia
sem sentido e as pessoas nas ruas fantoches do capitalismo e de um Deus que
realmente ele não compreendia e nem queria entender. Neste momento o moço teve
medo do curso que sua vida estava tomando, tudo indicava uma vida “fake” de projeções
apenas. Chorou. E simultaneamente com as lagrimas vieram a sua memória imagens
da festa de confraternização do trabalho e da obrigatoriedade hipócrita de
oferecer presentes, e o mais grave; beijar e abraçar quem não se amava. O peito
do homem apertou, sentiu que estava a segundos de um infarto de miocárdio. Todavia
a vida é irônica e ele precisava sofrer.
Ainda caminhando pelo centro da
cidade avistara várias mensagens de natal, a maioria de consolo, cura imediata,
felicidade comprada, incentivando o consumo e até de auto-ajuda. Procurou mais, contudo o que
desejava ele não encontrara nas placas de propaganda: Ele buscava afeto.
Desistiu do presente voltou para casa.
Trilha sonora do dia – Minha história
do Chico Buarque
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