domingo, dezembro 25, 2011

A dialógica do natal

O centro da cidade estava inviável e intransitável, não havia rotas de fugas. Nem possibilidade de transitar no intransitivo, porque era gente para todos os lados, visto de cima o centro parecia um formigueiro humano. Todavia  formigueiros humanos não são democráticos e nem possuem espírito coletivo como os da formigas, pois neste ultimo as formigas comungam a vida e o afeto, já nos “humanos”... 

O calor de quase 40graus também contribuía para a formação do inferno em Terra. Jorge se sentia no inferno e sem possibilidade de trilhas sonoras. Continuava a tentar caminhar, apesar da dificuldade e das pedras. O rapaz fora ao centro a pedido da esposa, pois a mulher esquecera os últimos presentes de natal e incumbira Jorge da tarefa. 

Jorge odiava multidões e fazer compras, porém ele era passivo demais para dizer não a esposa, além de não querer  estabelecer uma crise na relação na véspera de natal. Se bem que a data também não importava para ele. No fundo, ele estava cansado demais para discussões. E quando se esta assim... a passividade é uma escolha saudável. 

Pessoas apressadas com sacolas passavam e não enxergavam ninguém, nem um sorriso era oferecido. Refletindo sobre o comportamento das pessoas, Jorge, pensou: Natal é uma festa dialógica, de vários significados e cheia de diferentes discursos: para os donos do comércio  significa aumento nos lucros, para outros férias, bebida e comida em excesso. Ainda para outros a possibilidade de curar seus males comprando e se iludindo. Para alguns cristãos o nascimento de cristo, para outros a vida. E para os animais – porcos, perus, vacas e outros- a morte. Nossa! Que data complexa! Exclamou Jorge suando... E se indagou mais: De onde vem a figura do papai Noel? Para que tanto consumo e excesso numa época só? 

Jorge não entendia, apesar de ser ateu, como conseguiram transferir o presépio de Belém para as lojas. Tudo parecia sem sentido e as pessoas nas ruas fantoches do capitalismo e de um Deus que realmente ele não compreendia e nem queria entender. Neste momento o moço teve medo do curso que sua vida estava tomando,  tudo indicava uma vida “fake” de projeções apenas. Chorou. E simultaneamente com as lagrimas vieram a sua memória imagens da festa de confraternização do trabalho e da obrigatoriedade hipócrita de oferecer presentes, e o mais grave; beijar e abraçar quem não se amava. O peito do homem apertou, sentiu que estava a segundos de um infarto de miocárdio. Todavia a vida é irônica e ele precisava sofrer. 

Ainda caminhando pelo centro da cidade avistara várias mensagens de natal, a maioria de consolo, cura imediata, felicidade comprada, incentivando o consumo e até de  auto-ajuda. Procurou mais, contudo o que desejava ele não encontrara nas placas de propaganda: Ele buscava afeto. Desistiu do presente voltou para casa. 

Trilha sonora do dia – Minha história do Chico Buarque 


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