segunda-feira, outubro 31, 2011

Impressões sobre literatura do horror: Frankenstein e sua criatura: toda humilhação será perdoada?


Frankenstein de Mary Shelley é uma história fantástica que mistura horror e ficção cientifica, a qual devoramos com voracidade suas 128 páginas em 2 horas.  Uma narrativa envolvente que se constrói pela impressão de três personagens: cientista, Victor Frankenstein, da Criatura e do diário do comandante Walton. 

O que torna a narrativa mais atraente são essas divisões de impressões. Cada personagem conta a história pela sua ótica.  O livro inicia-se com a narrativa do cientista, Victor Frankenstein, um jovem ambicioso, inteligente, o qual dedica seu tempo a construir algo que mudará a humanidade e a si próprio.  A narrativa começa com a seguinte indagação do cientista: Como pode o verme ser o herdeiro das maravilhas de um olho ou de um cérebro? Pág 11 E é em cima desta revolta e incompreensão que o jovem começa a concluir que para descobrir as causas da vida, ele tem que recorrer à morte.  E diante esta obsessão de como a vida se transforma em morte e vice-versa; ele teve a idéia de gerar a vida, por meio da morte.  E durante dois anos trancou-se em seu laboratório, isolou-se do mundo para criar  uma criatura feita de restos humanos, que nasceu por volta das 2h da madrugada numa noite chuvosa, vinda da energia de um raio.
Quando Frankenstein vê sua criatura viva, sente asco, nojo dele mesmo e da criatura por ela ser tão feia e repugnante. E não aguentando sua feiúra a abandona.  

A segunda parte da narrativa é feita pelo monstro. A criatura que fora abandonada pelo seu criador. Se o seu pai o abandonou o que esperar do resto da humanidade? A criatura fez de tudo para tentar sobreviver e amar, mas a intolerância humana a levou a conjugar o verbo odiar. Na segunda narrativa do livro a criatura conta toda sua desgraça ao jovem cientista. 

“ Todos me enxotam e me odeiam. As escarpas são o meu refugio. Meu lar são as cavernas de gelo, em que o homem não ousa penetrar. E, para mim, as tempestades de neve são mais amigas do que qualquer ser humano” pág 48

A criatura passara anos perambulando pelas florestas. Até que um dia descobre o fogo, o calor humano e o amor pelas fendas de seu esconderijo, o qual era um chiqueiro de porcos que fazia fundo com a casa de uma família( pai, uma filha e um filho). Ele admirava aquela família e queria, de certa forma, fazer parte dela, mas o medo do terror que ele poderia causar nas pessoas o mantinha distante. Olhando pelas fendas, a criatura aprendeu a falar, ler e escrever.  Conheceu história, amor, o ódio e o desejov de vingança. A criatura sentia necessidade de ser amada e da partilhar sua vida com os outros. Até que um dia decidiu se revelar para família e como o esperado causou pavor, foi humilhada, ofendida e quase morta. 

“ Seria o homem, ao mesmo tempo, tão poderoso e magnifico quanto ma e desprezível? “ pág 73

Para tentar ousar ou experimentar a felicidade uma única vez na vida que fosse. A criatura pede para Victor construir uma companheira para ele. O cientista nega, mas depois concorda. E com o tempo abandona o projeto deixando a criatura com raiva. E para se vingar ela mata o pai e a noiva do cientista. Então neste momento inicia-se uma  perseguição alucinante: Criador-Criatura, na qual termina na mortede ambos. 

“ Eu pusera de lado todo os sentimento e subjugara qualquer angustia. Para mim, o mal se tornara o bem. Só faltava o ato supremo: a criatura destruir o criador. (...) Nunca mais verei o sol ou as estrelas, mas meu espírito dormira em paz” pág 128. 


Coments: Antes da leitura do livro, não entendia porque a criatura ficou conhecida como  Frankenstein no cinema, sendo que este é o criador. Agora com a leitura percebo que mais monstro que a criatura era seu criador.

A criatura somos todos nós. A criatura foi oprimida, teve toda sua dignidade humana violada e não possuiu o direito de ser. Tudo foi lhe roubado. O que resta quando te tiram tudo, até a compaixão? O ódio? Talvez por isso a criatura esteja em todos os lugares. Talvez por isso eu tenha lido a narrativa da criatura aos prantos, quase aos gritos. Porque a sua dor é algo inimaginável. E todos somos culpados por ela. 

Mary Shelley escreveu o livro numa  brincadeira com o marido e o poeta  Lord Byron. Apostaram  numa noite chuvosa quem criaria a melhor  historia de terror. E a moça foi a única a concluir o desafio.  Existem motivos para nos tornarmos monstros? Ou é a sociedade que nos fada a uma vida desgraçada? Até que ponto somos cúmplices da loucura do jovem Frankenstein? Quantas criaturas já foram oprimidas por nós? 

Ps:  O cinema não retratou a obra com fidelidade e dignidade. Uma pena...:( 


Nenhum comentário: