Frankenstein de Mary Shelley é uma história fantástica que
mistura horror e ficção cientifica, a qual devoramos com voracidade suas 128
páginas em 2 horas. Uma narrativa
envolvente que se constrói pela impressão de três personagens: cientista,
Victor Frankenstein, da Criatura e do diário do comandante Walton.
O que torna a narrativa mais atraente são essas divisões de
impressões. Cada personagem conta a história pela sua ótica. O livro inicia-se com a narrativa do
cientista, Victor Frankenstein, um jovem ambicioso, inteligente, o qual dedica
seu tempo a construir algo que mudará a humanidade e a si próprio. A narrativa começa com a seguinte indagação
do cientista: Como
pode o verme ser o herdeiro das maravilhas de um olho ou de um cérebro? Pág 11
E é em cima desta revolta e incompreensão que o jovem começa a concluir que
para descobrir as causas da vida, ele tem que recorrer à morte. E diante esta obsessão de como a vida se
transforma em morte e vice-versa; ele teve a idéia de gerar a vida, por meio da
morte. E durante dois anos trancou-se em
seu laboratório, isolou-se do mundo para criar uma criatura feita de restos humanos, que
nasceu por volta das 2h da madrugada numa noite chuvosa, vinda da energia de um
raio.
Quando Frankenstein vê sua criatura viva, sente asco, nojo
dele mesmo e da criatura por ela ser tão feia e repugnante. E não aguentando sua
feiúra a abandona.
A segunda parte da narrativa é feita pelo monstro. A criatura
que fora abandonada pelo seu criador. Se o seu pai o abandonou o que esperar do
resto da humanidade? A criatura fez de tudo para tentar sobreviver e amar, mas
a intolerância humana a levou a conjugar o verbo odiar. Na segunda narrativa do
livro a criatura conta toda sua desgraça ao jovem cientista.
“ Todos me
enxotam e me odeiam. As escarpas são o meu refugio. Meu lar são as cavernas de
gelo, em que o homem não ousa penetrar. E, para mim, as tempestades de neve são
mais amigas do que qualquer ser humano” pág 48
A criatura passara anos perambulando pelas florestas. Até que
um dia descobre o fogo, o calor humano e o amor pelas fendas de seu esconderijo,
o qual era um chiqueiro de porcos que fazia fundo com a casa de uma família(
pai, uma filha e um filho). Ele admirava aquela família e queria, de certa
forma, fazer parte dela, mas o medo do terror que ele poderia causar nas
pessoas o mantinha distante. Olhando pelas fendas, a criatura aprendeu a falar,
ler e escrever. Conheceu história, amor,
o ódio e o desejov de vingança. A criatura sentia necessidade de ser amada e da
partilhar sua vida com os outros. Até que um dia decidiu se revelar para
família e como o esperado causou pavor, foi humilhada, ofendida e quase morta.
“ Seria o
homem, ao mesmo tempo, tão poderoso e magnifico quanto ma e desprezível? “ pág
73
Para tentar ousar ou experimentar
a felicidade uma única vez na vida que fosse. A criatura pede para Victor construir
uma companheira para ele. O cientista nega, mas depois concorda. E com o tempo
abandona o projeto deixando a criatura com raiva. E para se vingar ela mata o
pai e a noiva do cientista. Então neste momento inicia-se uma perseguição alucinante: Criador-Criatura, na
qual termina na mortede ambos.
“ Eu pusera de lado todo os sentimento e
subjugara qualquer angustia. Para mim, o mal se tornara o bem. Só faltava o ato
supremo: a criatura destruir o criador. (...) Nunca mais verei o sol ou as
estrelas, mas meu espírito dormira em paz” pág 128.
Coments: Antes da leitura do livro, não entendia porque a criatura
ficou conhecida como Frankenstein no cinema,
sendo que este é o criador. Agora com a leitura percebo que mais monstro que a
criatura era seu criador.
A criatura somos todos nós. A
criatura foi oprimida, teve toda sua dignidade humana violada e não possuiu o
direito de ser. Tudo foi lhe roubado. O que resta quando te tiram tudo, até a compaixão?
O ódio? Talvez por isso a criatura esteja em todos os lugares. Talvez por isso
eu tenha lido a narrativa da criatura aos prantos, quase aos gritos. Porque a
sua dor é algo inimaginável. E todos somos culpados por ela.
Mary Shelley escreveu o livro numa
brincadeira com o marido e o poeta Lord Byron. Apostaram numa noite chuvosa quem criaria a melhor historia de terror. E a moça foi a única a
concluir o desafio. Existem motivos para
nos tornarmos monstros? Ou é a sociedade que nos fada a uma vida desgraçada?
Até que ponto somos cúmplices da loucura do jovem Frankenstein? Quantas
criaturas já foram oprimidas por nós?
Ps: O cinema não retratou a obra com fidelidade e
dignidade. Uma pena...:(
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