quinta-feira, julho 14, 2011

Pneumotórax e um sorriso salvador

Eu estou completamente fora de mim. Ops..fora de mim estou faz tempo. Ou contra o tempo? Contratempo? Já nem sei mais que palavras recorrer... Há dias assim: morosos/tediosos/febris e irritantes. Há certas coisas que me irritam profundamente, por exemplo, as pessoas insistirem copiosamente e inadequadamente em me perguntar/trolhar o que eu tenho. Porra! Eu to tossindo igual uma louca, espirando, catarrando, febril e lerda como uma tartaruga. E ainda pergunta? Hum? Oi? rs 

 Bronquite esta são as pessoas. Pessoas esta é a bronquite, que causa toda falta de ar e irritação na pessoa aqui. RS As pessoas cobram felicidade e até saúde, não temos direito a um dia de tristeza/melancolia/falta de ar ?  #ditaduramaldita

Nestas tardes no hospital o que eu mais queria ouvir do médico: Daniela, diga 33. Mas ele não disse. Somente me chamou de mocinha e ai quase ferrou tudo, porque quando fico feliz o ar me falta e o coração descompassa. Deixa eu "exprica": semana passada um SENHOR me chamou de senhora e foi traumático. rs Portanto o médico salvou meu ego balzaquiano ferido pelo pronome de tratamento Senhora. rs Mas, o que eu queria mesmo era dizer para o médico 33, porque talvez isso fosse um tipo de consolo, pois me leva ao poema pneumotórax  do Bandeira, ao tango argentino e consequentemente ao vinho. RS  Um tipo de salvação.


Pneumotórax – Manoel Bandeira
Febre, hemoptise, dispnéia e suores noturnos.
A vida inteira que podia ter sido e que não foi.
Tosse, tosse, tosse.

Mandou chamar o médico:
- Diga trinta e três.
- Trinta e três... trinta e três... trinta e três...
- Respire.

- O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito infiltrado.
- Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax?
- Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.

De fato, poucas coisas me consolam hoje. O que aquieta meu coração descompassado é recordar de um sorriso perdido na minha memória afetiva. Um secreto sorriso que não quero compartilhar com ninguém. Porque há coisas que eu não quero dividir. E o sorriso dele me apresenta uma possibilidade de tolerância e aceitação indescritível que me joga para dentro de mim. Porque exatamente neste sorriso lancinante há um tanto de vida perdida. Vida que me enche de esperança, porque é nas diferenças que aprendo mais. Sei que você me acha sonhadora, boba, marxista, brisada e sua antítese. Mas é na tese que nos encontramos e tudo nos é revelado, mesmo os argumentos sendo contrários, pois é nessa contradição que nos reconhecemos como complementos. E eu sei que ele precisa de mim, na mesma proporção que eu preciso dele. Eu sei também que a sua vida passou a ter um gosto a mais depois de mim e que todas as suas crises, histórias é comigo que ele gosta de compartilhar. Sei que ele queria descobrir o mundo que nasce do meu coração... Porque é exatamente esse coração bobo que te deixa assim... dependente dos meus olhos, como eu do seu sorriso.

Há coisas que quase não precisamos compreender. Já desisti também. Enquanto o mundo é #fail, só me resta olhar o sorriso dele, o qual me livra de todo mal. #amem  ( até da bronquite)

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