quinta-feira, setembro 02, 2010

Ilha do Medo – Uma homenagem aos filmes B

A Ilha do Medo (2010) de Martin Scorsese é um ótimo filme do gênero terror/psicológico e tenta resgatar a ideia de filme B- filmes produzidos com baixo orçamento e fora do circuito comercial. A cena inicial é de barco surgindo no meio do mar e da neblina remetendo a ideia de mistério e uma certa inquietação. Dentro do barco e banhado pela neblina esta o agente federal Teddy Daniels (Leonardo de Caprio), o qual juntamente com seu parceiro Chuck (Mark Ruffalo) investiga o desaparecimento de um paciente do Hospital/Prisão psiquiátrico na ilha Shutter e também objetiva desvendar o passado particular que lhe assombra: a morte da esposa no incêndio de sua casa.

No hospital, ele descobre que os médicos realizam experiências antiéticas com os pacientes, envolvendo métodos ilegais e cruéis. Teddy tenta buscar mais informações, mas enfrenta a resistência dos médicos em lhe fornecer os arquivos que possam permitir que o caso seja aberto. Quando um furacão deixa a ilha sem comunicação, diversos prisioneiros conseguem escapar e tornam a situação ainda mais perigosa.

O filme retrata uma emoção básica no ser humano: o medo. E o roteiriza por meio do sofrimento mental e de todo o mistério que permeia a nebulosidade da mente humana. O limiar da loucura e da sanidade fica obscuro no filme, visto que na própria película ele não as segrega, pois a loucura circula na sociedade. E o diretor tenta evidenciar isso no filme com cenas escuras e por meio da dubiedade dos diálogos, pois por horas parece que o louco é o médico, outras que é o detetive, contudo nunca o doente mental, como se analogamente ele fizesse uma inversão de papéis. A obra retrata que o sofrimento é algo do individuo, o qual não encontra mais saídas para sua cisão social e existencial. A Ilha do Medo demonstra que o sofrimento é psíquico e está relacionado aos transtornos mentais, ou seja, ou eu lido com a loucura como algo essencialmente social e vejo sua beleza, como nas artes (cinema, literatura, pintura, música, etc) encarando o sofrimento (não o aceitando), ou o percebo como algo que deve ser eliminado. Teddy não aceita seu sofrimento mental, portanto sempre anda no fio da navalha. Dificilmente compreendemos com o desenrolar da história onde Scorsese quer nos levar, se é mesmo nos incitar interpretações da própria loucura ou nos situar na condição dos doentes mentais.

Outro ponto interessante para se destacar é o fato da ilha ser cercada por penhascos por todos os lados, possuindo apenas uma saída pelo cais, a qual é controlada por policias. Quantos de nós não nos sentimos numa ilha assim? Scorcese aguça o psicológico humano e nos revela o medo de nos descobrirmos e da nossa impossibilidade de fuga. Teddy, num momento de delírio, afirma para si mesmo que o medo na mente o atormenta por meio de sonhos e pesadelos, e com isso reafirmando para si mesmo que o tempo esta acabando, ou seja, o tempo de escapar da ilha.

O filme caminha lentamente para um desfecho surpreendente. Scorcese, de maneira genial, nos surpreende no final e nos mantém em dúvidas, fazendo o público negá-lo, evidenciando que renunciar o final da obra é o mesmo que não se aceitar humano. Com a maestria narrativa e visual de Scorsese, a solução parece não apenas natural, como sofisticada na virada do roteiro. O diretor aborda muito criteriosamente os preconceitos em relação à saúde mental - ou a falta dela - retratada nos personagens. Com ótimo elenco, direção impecável e um roteiro de tirar fôlego, a Ilha do Medo é um filme que indicaria para todos que gostam de um bom cinema. 


TRAILER DO FILME - A ILHA DO MEDO - http://www.youtube.com/watch?v=gL4rP2prdfg

Um comentário:

Moabe disse...

Ainda não vi este filme, mas sua resenha me despertou curiosidade. Excelente análise.