quinta-feira, dezembro 08, 2011

Meia noite em Paris e aqui no coração...

Segundo Hemingway, Paris é uma festa e é nessa  ideia que parece simples que Woody Allen tece mais uma obra prima. Meia noite em Paris conta a história de um roteirista americano, Gil, interpretado por Owen Wilson que esta preste a se casar e vai para Paris com a família da noiva a negócios. Gil é um bem sucedido roteirista de Hollywood, mas o que ele quer mesmo é ser escritor e fazer literatura, mesmo que isso não dê tanto dinheiro. O filme conta uma história de amor de Gil com Paris e toda a insatisfação humana com o tempo presente, da possibilidade de uma vida diferente da que se tem. O filme aborda a questão das ilusões humanas na nostalgia de um tempo que se foi.  A nostalgia seria a negação de si mesmo? Se fosse eu adoraria viver num estado de negação completa...


O filme se inicia num dialogo em off entre Gil e a noiva com ele dizendo: Paris é bonita na chuva.  Tudo ao som do maravilhoso Cole Poter, o que dá uma imagem de Paris além dos olhos...


Gil numa noite após uma festa vai caminhar sozinho pelas ruas da cidade luz e como mágica volta aos anos 20 e  encontra seus escritores prediletos: Hemingway, Fitzgerald, o músico Cole Poter, os pintores: Dali, Picasso e Matisse entre outros. E daí começa tecer a sua própria história e da seu livro. Abro um parênteses para dizer que  me pareço com Gil, pois ele está frustrado com o trabalho de roteirista medíocre – apesar de ser bem remunerado em Hollywood - , tem uma noiva fútil e egoísta, se sente medíocre e desencaixado do mundo no qual habita. Gil queria morar em Paris num quarto e sala enquanto sua noiva numa mansão em Malibu. Seu conflito se intensifica com a mágica da meia noite. 


A fotografia do filme é uma obra de arte a parte. Paris é nos apresentado por visão artística quase impressionista. Eu poderia reconhecer Paris numa velha partitura musical de Poter. A trilha sonora é magnífica e dá cara a cidade. Os melhores diálogos do filme são entre Gil e  Hemingway, são de intensidade visceral .   

Segue uns trechos da minha livre adaptação.
“Hemingway: Nunca escreverá bem se tiver medo a morte, Gil.
Gil: Eu tenho medo da morte.
Hemingway: Um amor verdadeiro e real cria uma trégua da morte, toda covardia vem de não amar ou não amar bem. Quando um homem corajoso e verdadeiro olha a morte de frente é porque ele ama com paixão o suficiente para esquecer a morte... Então ele deve fazer amor de novo..O amor só valerá a pena se vencer a morte, na hora você não tiver mais medo.”


Quando Hemingway leva Gil à casa de Stein para ela ler/opinar sobre seu livro; lá  eles encontram Picasso e sua amante Adriana, a qual se apaixona por Gil. Na verdade eu queria ser Adriana... Desejada por Hemingway, Picasso e tantos outros. Ela começou a se sentir atraída por Gil, talvez porque ele parecesse ingênuo e despretensioso e tornasse a vida mais doce.  Gil, apesar do casamento marcado, e de todo o surrealismo que está vivendo: de dia em 2010  e após a meia noite na década de 20, se sente apaixonado pela moça e se questiona se realmente ele é capaz de amar duas mulheres.  Adriana mostra outras possibilidades de paixão, principalmente pela aceitação dele como ele é...aceitando seus sonhos. A noiva é a personificação de sua castração e a morte dos seus sonhos. 


Livre adaptação do dialogo de Adriana e Gil:
Ele a beija a beira do Senna.
Adriana: Senti beijando você, por um segundo, que eu era imortal...Porque a vida é misteriosa demais, a vida é tão ruidosa e complicada. E agora...
Gil: Sim...Eu que sempre fui uma pessoa racional e nunca agi de forma louca, agora me sinto livre. 


O filme mostra pelo seu surrealismo intenso que nós não estamos contente com nossa vida em nossa época atual e que poderíamos até mudar de época... Mas sempre nos sentiríamos insatisfeitos. O presente é insensato e insatisfatório porque a vida é um pouco insatisfatória.  O filme termina de maneira poética e genial. Desfecho para gênio como Woody Allen. Termina na chuva... Paris na chuva é bonita. 


O filme me fez questionar a minha vida medíocre e a minha passividade e covardia diante dela. Ele foi a epifania para minha tarde de quinta-feira. #amem Quero jazz e vida...e quero ir a Paris.


Coments: Woody Allen é tão genial ao apresentar os artistas norte-americanos no filme  que fiquei com tremenda vontade de ler O Grande Gatsby de Fitzgerald. #fato E de Hemingway só li Porque os sinos dobram e adorei. =) ( Vou segredar: só  li por influência do Raul Seixas e desta canção com o mesmo titulo – para ouvir é só clicar - ).


Coments2: Meu irmão tinha razão... Eu amei o filme em sua essência. A trilha sonora daria um filme à parte.


Trailer – Meia noite em Paris- escrito e dirigido por Woody Allen

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