sexta-feira, janeiro 28, 2011

Confissões e Diálogos

Nota: ficção e realidade confundem-se neste emaranhado de letras, o qual eu chamo de vida.

- Daniela, gritou ele, com a voz trêmula. Eram 18h. Horário de pico, carros, fumaças, barulhos e um emaranhado de confusão: pessoas apressadas e o coração dele na boca. A moça andava com pressa, todavia parecia sem direção, perdida. Como se corresse, mas não soubesse para onde. Ele sabia disso, inclusive da incapacidade espacial da garota. E sabia também que teria que gritar mais alto para ela poder notá-lo, pois ela era distraída e quase não sai do seu casulo, ainda mais quando estava conectada com seu mundo particular dentro do seu mp4. Ele correu, não poderia desistir. Não agora. E aos berros, como se tivesse colocando para fora todas as suas dores, berrou:

- Daniela!

A moçoila olhou para trás. Por sorte do rapaz a bateria do mp4 dela havia se findado. Ela arregalou os olhos, pois não imaginava vê-lo tão cedo, pois ele havia se mudado para Paris. Ela tentou conter o sorriso, mas não conseguiu, seu coração, mãos, pés e orelhas sorriam. Seu corpo sorria. Ela correu ao seu encontro.

-Oi. Você por aqui. Estou surpresa. Não foi embora para Paris? E o doutorado?

-As coisas atrasaram um pouco. Irei embora semana que vem e não queria partir sem vê-la. Não conseguiria ir...Disse ele com os olhos marejados.
Ela sorriu para tentar segurar o choro, Nessas horas ela sempre tentava ser forte, era como se mostrasse que nada a abalaria. Mas no fundo ela estava sem chão e o que queria mesmo era correr, aos prantos, para os braços dele.

-Daniela, por que você não responde meus e-mails? Não retorna meus telefonemas? Por que não quer mais falar comigo, se dizia me amar tanto? Por que me pediu para te evitar no seu último email, mas nos seus textos há tanto de mim? Talvez neste seu mp4 haja mais de mim do que de ti?

Ela não resistiu e os olhos marejaram. Ela soluçou e disse:

- Eu não posso falar com você, não entendes isso? Mas ao mesmo tempo eu não sei viver sem falar de você. Isso me confundi e enlouquece. Compreendo a mudança e sempre te apoiei nas suas escolhas. Estou feliz por você. Mas responder suas mensagens tirariam a vida que me resta. E não me venha dizer que sou superlativa. Sentimentos são singulares. Cada um sente de um jeito. E eu sou assim....

- Daniela, você é uma metáfora platônica. Não, você é a Daniela de laço de fita no cabelo, passional e superlativa, porque senão fosse assim não teria me apaixonado tanto.

A moça corre para os braços dele como se tivesse se jogando num abismo. Ele a beija com volúpia e força.

- Por que eu amo tanto você? Podes me explicar? Ah! Ontem, eu apaguei seus sms no meu celular...Eram mais de 160 mensagens. Cada texto que eu deletava era como se tivesse cortando uma parte de mim. Elas eram tão lindas/apaixonadas. Seria tão fácil partir da premissa que você nunca me amou. Tão fácil. É mentira. E não consegui apagar nada. Estão todas aqui ainda. O choro de ambos foi inevitável.

- Meu amor! Disse ternamente ele.

- Eu também não consegui rasgar nossas fotografias, nem no momento de raiva. Nada foi apagado, até porque tá DECORADO.
Depois disso tudo, da lembrança... comi um pé-de-moça. Ele cai na gargalhada e a abraça apaixonadamente.

- Você vai chegando assim devagar e me açambarca todo para você. Covardia! Daniela, você se transformou na corrente que faz girar meu andar pelo mundo. Ir para França agora parece um pesar, contudo eu preciso disso.

- Eita! Não diga isso. São seus sonhos e eu os compreendo. Também sei que estamos em tempos diferentes. Só isso.

- O mundo muda. Suspirou ele. Será que quando eu voltar você ainda estará ai?

- Eu sempre estive aqui. Suspirou ela.

- Vindo para cá, fiquei imaginando você indo comigo para Paris. Nossas malas no mesmo avião. Quase casadas. Eu e você de mãos dadas a busca do mundo. Chorei de felicidade. Abri o livro de Fernando Pessoa - Eu e outras poesias - e depois de 10 minutos,  todos os poemas pareciam ser feitos para ti. Só para ti.

-Que lindo o que você disse. Mas eu não posso ir contigo. Você sabe dos meus planos/sonhos. Ela chorou e ele a consolou. Ela continuou a falar:


- Ah! Ontem eu li o conto do poetinha “ Para uma menina como uma flor”. E sabe o que eu mais queria lendo o conto. Disse ela

- Não, meu girassol. O que?

-Queria tanto que você o lesse para mim. Um dia você lê?

- Claro, meu bem!

-Promete? Pede ela com os olhinhos de quem buscava mais que promessas.

- Só se for em TOTUM, in LOCO. Ela o beija.

-Dani, vencer distâncias não é necessário. Estar sempre com você é primordial. Contudo, agora, nossos caminhos se descruzaram e não sabemos se eles se encontrarão novamente.

-Eu sei. São os tempos. Mas penso que te amarei ad eternum.

Ele sorriu e a convidou para tomar um café. E o mundo girava...

"Mas eu gostava dele, dia mais dia, mais gostava. Digo o senhor: como um feitiço? Isso. Feito coisa-feita. Era ele estar perto de mim, e nada me faltava. Era ele fechar a cara e estar tristonho, e eu perdia meu sossego." Guimarães Rosa 


"Virá, impávido que nem Muhammed Ali, virá que eu vi
Apaixonadamente como Peri, virá que eu vi
Tranqüilo e infalível como Bruce Lee, virá que eu vi..."


Um comentário:

William Lima disse...

desliga esse mp4 de vez e olha pro lado, vc sabe q sempre tem alguém te paquerando...
toda essa vontade de estar perto é saudade? gostaria de sentir essa saudade tb... mas mal tenho lembranças pra me recordar, me fechei, gelei, me escureci...
vc é um girassol lindo, sempre mirando a luz, procurando onde se debruçar.
vc escreve tão bem, devia publicar um livro.
minha amiga da poesia, das palavras doces... vc só merece carinho...
te amo
bjos