sexta-feira, maio 14, 2010

Os ponteiros e as grandes descobertas

Nota mental e sentimental: 
    Hoje estou ao revés de mim mesma. Antes de postar o conto titulo deste post, o qual,me garantiu um premio no concurso de contos da oficina Tarsila do Amaral em 2006. E também sua publicação numa coletânea de contos. Antes de tudo...rs 

   Gostaria de postar minha trilha sonora do dia – Sixpence None The Richer - Kiss-me http://www.youtube.com/watch?v=3YcNzHOBmk8&feature=related

   E deixar algumas perguntas no ar. Queria saber o número do teu calçado e exatamente onde os teus pés te levam, pra longe ou perto de mim? Anseia-me saber como são teus dias. Se vc está alegre, triste, chateado, estressado? Queria saber como são tuas manhãs de inverno e teus dias de verão? E como vc recebe uma manhã chuvosa? Queria saber se vc gosta de tomar café na padoca: aquele pão na chapa cotidiano e um cafezinho( expresso com ou sem açúcar?) . Queria saber se vc gosta de dormir de meias? Qual a tua cor favorita, a tua palavra preferida, a música do tua vida? Queria saber cada detalhe do teu corpo e todas as cicatrizes que vc carrega. Queria conhecer a história das cicatrizes. Queria conhecer teus valores morais, tuas mentiras, tuas verdades e ver sua cara ao acordar. Vc poderia me dizer como fica sua cara ao acordar? Queria saber da tua falta de pontos, teu excesso de vírgulas, tua vontade escondida, tua timidez. Queria saber se vc é tarado. Queria saber se vc fala francês ou quer aprender. Queria tantas coisas... A nota mental é apenas para lembrar que hoje ele passou de “ele”para “tu”, ou no popular vc. Já é um grande avanço linguisticamente falando, pois quer dizer q está mais próximo a cada dia.

O conto: 

Os ponteiros e as grandes descobertas 
Daniela Bueno

    O relógio na parede parecia trabalhar contra o tempo, os últimos cinco minutos para as seis da tarde, pareciam cinco séculos. Os ponteiros não andavam... E a ansiedade o corroia. O que se pode fazer em cinco minutos, ele se indagou? Essa unidade, essa convenção de tempo estabelecida pelos homens é a coisa mais ingrata que conheço. O tempo está sempre contra nós. Quando desejamos que ele pare, ele voa, quando desejamos que ele voe , ele para. Esta sensação de revolta contra os ponteiros tinha um gosto amargo.Faltavam cinco minutos pra ele sair do trabalho. 

   Contava ele com 40 anos bem vividos, olhos e cabelos claros e um sorriso de “Monalisa” que sempre deixava uma interrogação no ar. Isto era comentário constante entre os colegas de trabalho. Afinal, um homem tão distante e misterioso sempre causa curiosidade. 

   O ponteiro não anda... Ele quase grita, olhando fixadamente para o relógio na parede. Engraçado! O tempo corre e não envelhece... Com a gente poderia ser assim, com as nossas idéias... Isto é injusto! Preciso enviar uma carta para Deus criticando isso e pedindo sua direta interferência. Nestes momentos finais ele decidiu fumar um cigarro na calçada, em frente à loja que trabalhava. Era uma loja que vendia produtos de informática.

   Assim que acendeu o cigarro encostou-se ao poste de luz e viu um cachorrinho vindo em sua direção. O bicho apesar de seu estado: machucado, com sarna e fome. Abanava o rabo para ele. Ele sorriu e chamou o cachorro fazendo um gesto com as mãos. O cachorro foi ao seu encontro. Ele se abaixou e deixou o animalzinho lamber suas mãos. E neste momento ele se questionou: Todo abandonado, todo machucado e ainda é feliz. Como pode isso? Tão maltratado pela vida, pelos homens, e ainda mantém a confiança neles. 

   Que coisa estranha! A partir deste instante estabeleceu um dialogo estranho com o seu novo amigo. E nesta conversa impossível eles se entendiam. E o cachorro prestava atenção em tudo que ele dizia com um olhar terno. Ele deu um sorriso engolido e pensou: Um animal dito irracional entende minha alma como poucos. Eles não são convencionados pelo tempo... A vida dos animais é intensa, sim parece ter o curso natural em seu sentido mais pleno. Portanto, a morte nesse caso, além de ser uma certeza é um fato natural... 

   O homem se levantou entrou no escritório para pegar um pouco de água e o resto do seu almoço para o cachorrinho. Quando voltou pra fora o cachorrinho tinha sumido. Ele colou a comida e a água embaixo do poste. E começou a perguntar do bichinho para algumas pessoas que passavam pela rua... Que passavam assim como os ponteiros dos relógios, mas não viam nada... Ele sentiu uma ponta de tristeza e quase chorou. Olhando pra si mesmo ele se perguntou se era isso liberdade? Ir e voltar sem tempo... A liberdade é a grande inimiga do tempo. A liberdade é uma vertente do amor. Ele sentiu um “tiquinho” de inveja do seu amigo. Porque percebeu o quanto o ser humano é limitado e preso a certas convenções e não percebe coisas simples e fundamentais: como o amor! Hoje em dia tão incomum...

   Aquele cachorro lhe ensinara tanto. Será que ele voltará a encontrá-lo? Será que como a Baleia do Graciliano, ele era o único com voz nessa história? Ele se virou e caminhou em direção da loja. Entrou para fechar e ir embora. Ele olhou assustado para o relógio; os ponteiros, mas uma vez o traira, pois já havia andado um relógio e meio. Ele sorriu, pois diante de tanto aprendizado o tempo não era mais primordial. 

   Arrumou suas coisas e fechou a loja. Já era noite. As luzes do postes da rua estavam todas acesas. Ele olhou desesperadamente para as luzes com a esperança de encontrar uma resposta. Foi ai que se virou de lado e viu o cachorro devorando a comida que ele havia colocado embaixo do poste. Ele sorriu. O cachorro abanou o rabo e continuou comendo... Ele aguardou. Depois de beber água, o animal num gesto de gratidão foi de encontro ao seu amigo. Abraçaram-se. E ele começou a andar e o cachorro o acompanhou. Bem ao seu lado. Neste momento ele percebeu que o amor é libertador ( ao contrario do que a maioria das pessoas pensam, ou almejam). Ele conquistará um amigo e percebera que quem sabe manter vivo o amor, não tem receio de partir... Está liberdade nos torna mais fortes que o tempo. Ou seja, o amor é nossa única salvação individual... Nesta reflexão ele sorriu. E continuaram a caminhar. 

 Burt e Lisa

5 comentários:

Anônimo disse...

Senhorita Daniela,

Eu já conhecia o seu conto, pois comprei o livro. E sempre gosto de rele-lo. O amor é sublime, como vc!
Agora a nota mental foi de matar. Que paixão desgraçada é essa? rs
Mas, linda! Queria ser "ele" ou "vc"( não a senhorita, mas ele). rs Vc entendeu. rs
Gostei da explicação linguistica. Gosto de vc!Gosto dos seus textos e principalmente da sua paixão.
bjo Júnior

Artus Rocha disse...

Oi! Te disse que gosto de ler seus textos de manhã, mas estou acordado até agora mandando emails para alguns professores, e não resisti a vir aqui. Vou ler denovo pela manhã.
Adorei, intensidade, liberdade, algo essencial para se viver de verdade, e vc descreve tão bem oque é isso, até de uma forma que nunca tinha pensado, e gostei muito. Vou dormir agora! Amanhã (hj, o tempo. rs) volto para reler. beijos!!!

William Lima disse...

Bom dia, Girassol!

Olha, o seu conto é lindo. Bem filosófica a discussão do amor, da liberdade e do tempo. Falou também das convenções sociais estabelecidas pelo ser humano (isso me leva a pensar, por exemplo, na filosofia contratualista de Locke - convenção social é um contrato social - estabelecido pela linguagem. Mas a linguagem também é uma convenção social, então Locke estaria em um círculo vicioso?!)

A sua nota mental e sentimental é mais do que uma nota. Até mesmo porque não está no fim do texto, mas antes dele. Acho que você poderia ter feito um post só para essa "nota". Essa mudança de interlocutor linguístico (deixar de falar sobre ele e falar diretamente com ele, constituindo um "você"), essa alteridade que você assume (eu falo com você) é mais do que um "avanço linguisticamente falando". Te conhecendo, eu diria que é um avanço coração-apaixonadamente falando. Adorei isso, enfim. (Olha eu falando agora de Bakhtin, do dialogismo, da alteridade)

Me desculpe pela incursão que fiz na teoria de Locke, é que estou estudando esse autor rs. Foi inevitável pensar nele.

Acho que acordei filósofo hoje. rsrs

Tenha uma linda sexta. E aproveite o pró-seco!

Bjokas

Anônimo disse...

Conheci o conto tb.
Adoro seu blog. E concordo com a analise do Will em número genero e grau. Vc é tão bobinha, às vezes, q chega ser um charme. É natural, mas é lindo!
Adorei seu reves e toda paixão.
bjo
Dado

Girassol disse...

Ju e Dado,

Obrigada pelo carinho de sempre! E que bom q gostam de reler meus textos. Isto p uma blogueira modesta significa tanto...ai!

Alex, Vc me comove diariamente. O q dizer, então? Obrigada por gostar de mim e dos meus textos. Bjos

Will, realmente meu texto sobre a influência do pai Bakhtin, como não poderia? heheeh Mas, numa coisa vc tem razão, ele está mais perto. E para a pessoa aqui isto é um grande avanço. hehehe
Te amo, meu amigo adorado!
bjosss a todos